A exposição 'Nadir Afonso (1920 -- 2013) -- A irresistível paixão pela pintura', que se divide por três espaços, abrange o período entre 1935 e 1959, uma fase menos conhecida do percurso do artista, reconhecido como o pioneiro do abstracionismo geométrico, disse à Lusa a curadora, Rita Maia Gomes.
A mostra apresenta desde as suas primeiras pinturas a óleo, feitas quando Nadir Afonso, nascido em 1920, era ainda adolescente, a trabalhos que produziu como estudante, culminando na obra mais tardia que contribuiu para a sua consagração internacional: a 'Máquina Cinética', integrada na série 'Espacillimité'.
Segundo Rita Maia Gomes, a exposição, patente até 01 de junho, conduz os visitantes pelo percurso do artista - que estudou Arquitetura na Faculdade de Belas-Artes do Porto -, a descobrir-se como pintor, até 1959, ano em que faz a sua primeira exposição individual na Maison des Beaux-Arts, em Paris.
"A partir de 1938, Nadir vai estudar Arquitetura, mas o que ele quer e continua a querer cada vez mais é ser pintor. O título da exposição tem a ver com isso, a irresistível paixão pela pintura", explicou, notando que, para o artista, segundo palavras do próprio, a arquitetura era um "sacrifício".
A exposição abre com um autorretrato de Nadir Afonso que nunca tinha sido exposto, nem sequer referenciado, pertencente ao espólio do pintor Amândio Silva, que era seu amigo, contou a curadora, sublinhado que a maioria das obras pertence a coleções particulares.
"Grande parte dessas obras pertence a colecionadores particulares, portanto, esta é uma oportunidade de ver obras que normalmente estão em casa desses colecionadores e não estão acessíveis ao público", referiu, acrescentando que a mostra reúne também documentos e estudos de forma e cor que precedem obras.
Um dos espaços integrados na exposição é a capela do antigo convento onde séculos depois foi instalado o Museu de Faro, na qual está exposta, propositadamente no altar, uma das obras mais emblemáticas de Nadir Afonso: 'Espacillimité' ('Máquina Cinética'), de 1956.
"[A obra] chama-se 'Espaço Ilimitado Máquina Cinética' e tem a ver com este conceito que ele cria de espaço ilimitado, que é, no fundo, a ideia que ele persegue de uma pintura que não tem fim. Portanto, aqui, Nadir está na vanguarda do que se estava a passar internacionalmente em termos de movimentos artísticos", frisou Rita Maia Gomes.
A 'Máquina Cinética' consiste numa tela em banda em que as extremidades verticais se unem, colocada sobre dois eixos cilíndricos verticais que, ao criarem tensão em sentido oposto, permitem que a tela fique suspensa.
Os cilindros assentam numa trave animada por um mecanismo que, ao gerar um movimento sistematizado, aciona a deslocação da tela, introduzindo na pintura o conceito de 'loop', que lhe confere a ilusão do ilimitado.
Esta obra de referência no percurso de Nadir Afonso foi apresentada em 1957, na Galerie Denise René, espaço mentor da apresentação da arte cinética e, em 1958, no Salon des Réalités Nouvelles, em Paris.
De acordo com o diretor do Museu Municipal de Faro, Marco Lopes, esta exposição representou um desafio, não só por ocupar uma dimensão razoável, em três espaços diferentes, como pelo mapeamento das obras do pintor, espalhadas por múltiplas coleções particulares.
"Foi um desafio ter uma exposição desta escala, que é uma escala exigente em número de peças de proveniências distintas. Estamos a falar, por um lado, de instituições públicas que cederam as suas peças, mas também de muitos colecionadores particulares", referiu.
Nadir Afonso, que chegou a trabalhar com os arquitetos Le Corbusier e Oscar Niemeyer, morreu em 2013, antes da inauguração do Museu de Arte Contemporânea com o seu nome nascer na sua cidade natal, Chaves, no distrito de Vila Real.
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