Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique são os países de língua oficial portuguesa com projetos reconhecidos na edição de 2025 do programa da UNESCO, que visa preservar o património documental da humanidade.
O Brasil vê reconhecidas duas candidaturas: O 'Arquivo Carlos Chagas' e 'O Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju: uma enciclopédia cartográfica a serviço das línguas, culturas e memórias dos povos indígenas'.
O 'Arquivo Carlos Chagas', do médico e cientista brasileiro Carlos Chagas, reflete, segundo a UNESCO, "os contextos científicos, sociais e culturais da descoberta da doença que tem o seu nome", bem como a sua luta pela ciência e pela saúde.
Para a UNESCO, o estabelecimento do Dia Mundial da Doença de Chagas pela Organização Mundial da Saúde em 2019 "demonstra a importância dessa doença negligenciada na agenda global de saúde".
O outro reconhecimento ao Brasil recai sobre o trabalho cartográfico 'O Mapa Etno-Histórico de Curt Nimuendaju', que é considerado um marco na história da antropologia. O documento sintetiza o conhecimento produzido sobre os povos indígenas no Brasil e regiões vizinhas, desde o século XVI até meados do século XX.
De acordo com a UNESCO, o mapa apresenta informações sobre aproximadamente 1.400 grupos indígenas, pertencentes a 41 famílias linguísticas, com base em cerca de 900 referências bibliográficas e destaca-se por "evidenciar a ocupação do espaço, a mobilidade natural de diferentes grupos e os deslocamentos provocados pela colonização e pela consolidação do território brasileiro".
Em Cabo Verde, foi escolhido o projeto 'Documentos sobre a Escravatura nos Arquivos da Secretaria-Geral do Governo (Cabo Verde, 1842-1869)'.
A UNESCO indica que, neste projeto, os livros manuscritos do Fonds d'Archives du Secrétariat Général du Gouvernement datam de 1674 a 1954, sendo a maior parte da documentação de 1803 a 1927.
Considerando que estes documentos são das maiores coleções do Arquivo Nacional de Cabo Verde "e a mais procurada pelos investigadores", esta coleção desempenha, acrescenta a organização, "um papel fundamental na preservação da memória da escravatura e no incentivo à investigação sobre os seus diferentes aspetos".
A coleção é constituída por quatro caixas, 21 itens, 702 folhas de documentos avulsos, um livro manuscrito referente às Cartas de Liberdade, um livro de Autos de Juramento e atas de sessões da Comissão Mista Luso-Britânica.
Por último, venceu uma candidatura conjunta dos livros e registos de escravos entre Angola, Moçambique e Cabo Verde.
'Recenseamento de escravos em Angola, Cabo Verde e Moçambique determinado por decreto português de 14/12/1854' é um projeto que compreende 79 livros de registo de escravos nestes países, criados principalmente entre 1856 e 1875.
A UNESCO refere que estes registos, emitidos por decreto da Coroa Portuguesa, documentavam todos os indivíduos escravizados e libertos nos seus territórios ultramarinos, lançando as bases para a abolição da escravatura em 1869.
Sobre a importância desta candidatura de três países lusófonos, a UNESCO refere que estes registos são sobre "uma época em que a escravidão tinha oponentes em todo o mundo" e esses livros "forneciam registos detalhados, incluindo nomes, sexo, local de nascimento, idade, características físicas, ocupações e informações sobre proprietários de escravos".
Criado em 1992, o programa Memória do Mundo da UNESCO visa preservar o património documental da humanidade, promovendo a sua proteção contra o esquecimento, a deterioração e a destruição. É uma instância legitimadora, que reconhece e garante valor a acervos, acionando, nesse processo, várias categorias de especialistas para análise das candidaturas.
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