"Devo dizer que este pacote que foi anunciado pelo Governo não foi levado à prática, passados três meses ainda não se sabe nada de nada. Sabe-se que vai ser refeito esse contrato, [...] porque parece que haveria problemas, e como tinham de ser emendadas várias coisas, vai ter de ser feito outro contrato, com o mesmo valor. Aliás, isso é algo que está registado, e não pode ser alterado. Portanto, com o mesmo valor, mas não sabemos quando", revelou.
Artur Lopes aludia ao facto de o Comité Olímpico de Portugal (COP) ter recebido "uma alteração, por meio do Conselho de Ministros, para refazer" o Contrato-Programa firmado em 17 de dezembro. Nesse dia, o Governo anunciou que iria investir 65 milhões de euros (ME) adicionais no desporto no período 2024-2028, dos quais o organismo olímpico receberia cerca de 50 ME.
"Dinheiro ainda não apareceu nada, absolutamente nada. Além disso, é algo que me preocupa um bocado -- a mim não, mas aos vindouros deve preocupar -, porque, a menos que seja feito de encomenda, o que lá vem é que o IPDJ [Instituto Português do Desporto e da Juventude] poderá acrescentar algumas adendas ao contrato. Adendas essas que podem ser feitas, todos sabemos como, e podem espartilhar a possibilidade e a capacidade que o COP terá de gerir esse dinheiro para o empregar no desenvolvimento do desporto em Portugal", salientou.
O Contrato-Programa para o Desporto 2024-2028 integrava cinco medidas e 14 programas, alinhados com os quatro objetivos do Governo para o setor: aumentar a prática desportiva, promover a igualdade de género, reduzindo a diferença entre homens e mulheres, aproximar Portugal do que são as boas práticas europeias e diminuir o nível de excesso de peso e obesidade.
Com a queda do executivo de Luís Montenegro, Artur Lopes acredita que é "provável" que a transferência de verbas para o organismo olímpico seja ainda mais demorada.
"No entanto, isto é uma decisão que o Governo tomou já, esta verba deve estar cabimentada do ano anterior, inclusive. Foi em 2024 ainda, e, portanto, deve poder desenvolver este projeto, eu acho que sim. Não faz sentido que não o possa, porque se não, então, estamos perdidos. É mais um ano que se perde", alertou.
A título de exemplo, o presidente do COP referiu que, "se pudesse ter tido o dinheiro desde o princípio", podia ter tratado de questões como a recuperação dos Centros de Alto Rendimento, nomeadamente do Velódromo de Anadia, onde chove "sobre a pista" que 'deu' a Portugal duas medalhas, incluindo um ouro, nos Jogos Olímpicos Paris2024.
"Essa obra é urgente. Agora, a Câmara, também já me perguntou 'será que haverá dinheiro para ajudar a recuperar isto', porque a Câmara sozinha não pode. [...] Isto quer dizer que vai, se calhar, passar outro inverno a chover lá dentro e corre-se o risco de deteriorar a pista", exemplificou.
Lopes disse não perceber este impasse, depois de ter havido "tanta pressa" de anunciar o 'envelope financeiro' adicional para o setor.
"Parece que já está tudo resolvido, ficou tudo muito bem, ficaram todos muito felizes, fizeram aqui dentro do COP uma bela manifestação, uma manifestação de amor que o primeiro-ministro mostrou pelo desporto - e eu acho sinceramente que é genuíno. Mas, depois, ali parou, como se tudo ficasse resolvido. Não ficou nada resolvido, ali foi um pontapé de saída", defendeu.
Questionado pela Lusa sobre se o Governo poderia estar à espera da eleição do novo presidente do COP, agendada para quarta-feira, para 'acelerar' o processo, o ainda líder do organismo reconheceu que esse cenário é "provável".
"De qualquer maneira, se é assim, acho que é muito mau, porque esta casa tem trabalhado e tem de continuar a trabalhar", pontuou.