Os filmes com equipas que incluem mulheres são, em média, mais lucrativos que os títulos feitos só por homens, mas as mulheres perderam terreno em Hollywood no último ano, segundo dados da iniciativa ReFrame durante a WonderCon 2025.
"As produções com equilíbrio de género entre os 100 filmes de topo ganharam mais do dobro das outras", afirmou Chandra Jackson, diretora de comunicação da Women in Film, numa sessão da WonderCon intitulada 'Women Rocking Hollywood'.
"Estamos a falar de 294 milhões de dólares contra 118 milhões. Isto é um projeto viável que vai dar lucros", salientou, em relação a filmes com mais mulheres e pessoas não binárias. "Não é só a coisa certa a fazer, é bom para o negócio".
No entanto, apesar da evidência, o número de produções com mulheres atrás das câmaras caiu, em especial realizadoras - passou de 20 para 14. O mesmo aconteceu com argumentistas, em especial não caucasianas, e diretoras de fotografia, efeitos visuais e compositoras continuam muito escassas na indústria.
A análise concluiu que os filmes com maiores orçamentos são menos inclusivos e apenas à frente das câmaras, nos principais papéis, foi atingida a paridade.
Na televisão, o equilíbrio entre géneros caiu e em vários aspetos tombou para níveis pré-pandemia.
A iniciativa ReFrame, da autoria da Women in Film Los Angeles e Instituto Sundance, avalia as produções e dá um selo de qualidade às que têm maior diversidade de género.
"Na indústria de histórias mais poderosa do mundo, não estamos a incluir metade da população", lamentou Chandra Jackson. "Os dados não mentem e quando mostramos esses números as pessoas ficam constrangidas", acrescentou.
Carla Ching, produtora de 'Mr. & Mrs. Smith', avisou que a situação vai piorar nos próximos tempos. "Vocês vão ver muito mais conteúdo com homens brancos heterossexuais", afirmou. "Vão ver uma guinada de volta para certas coisas e precisam de fazer barulho sobre aquilo que querem mesmo ver".
Uma das séries que está a contrariar esta tendência é 'Survival of the Thickest', na Netflix, em que 70% dos líderes de departamentos e 50% da equipa são mulheres, com todos os episódios realizados no feminino.
"Não o fizemos de propósito, queríamos contratar os melhores para cada cargo e em muitos casos os melhores são mulheres", explicou a produtora executiva, Danielle Sanchez-Witzel.
"Somos muito representativos de várias comunidades", disse a responsável da série, cuja segunda temporada acaba de estrear. "Temos um homem negro heterossexual que está a fazer terapia. Temos pessoas transgénero. Temos um bar drag", elencou. "Estamos a refletir aquilo que vemos nas nossas vidas".
As estatísticas mostram que os estúdios que produzem conteúdos com maior diversidade são a Netflix e Prime Video, bastante mais que Apple TV+, Paramount, NBC Universal e Warner Bros. Discovery.
Um dos problemas identificados pela realizadora Rosemary Rodriguez, que trabalhou em 'The Walking Dead' e 'Jessica Jones', é que o cenário televisivo está muito mais difícil. "Não há produções suficientes a serem filmadas neste momento", salientou. "O negócio neste momento é muito desafiante".
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