Estas medidas da entidade sérvia, a Republika Srpska (RS), alimentaram as tensões na Bósnia e testaram as frágeis instituições centrais do dividido país dos Balcãs.
"Nem a República Sérvia nem eu somos uma ameaça para a Bósnia-Herzegovina", assegurou Dodik numa longa mensagem publicada nas redes sociais, na qual se dirigiu às populações étnicas da República Sérvia, "os sérvios, os bósnios e os croatas".
Desde o fim da guerra na Bósnia (1992-1995), o país foi dividido em duas entidades autónomas, a RS e a Federação Croata-Muçulmana, ligadas por instituições centrais, reforçadas durante vários anos após o conflito e agora questionadas por Dodik.
Entretanto, vários líderes bósnios (muçulmanos), que denunciaram um "golpe de Estado" - incluindo o membro da presidência tripartida do país, Denis Becirovic -, indicaram que apelaram ao Tribunal Constitucional do país, pedindo-lhe que anule esta legislação.
O presidente da RS, no poder desde 2006, promulgou na noite de quarta-feira várias leis adotadas no final de fevereiro pelo Parlamento da organização sérvia.
Esta legislação proíbe o Tribunal Estadual da Bósnia, o Ministério Público Estadual e a Polícia Central (SIPA) de operar no território da RS.
As medidas foram adotadas em resposta à condenação, a 26 de fevereiro, de Milorad Dodik, de 65 anos, pelo Tribunal Estadual de Sarajevo, num julgamento por incumprimento das decisões do Alto Representante Internacional Christian Schmidt, responsável por fazer cumprir o acordo de paz de Dayton.
Dodik foi condenado a um ano de prisão e a seis anos de proibição de exercer cargos público -- uma decisão judicial de que poderá recorrer -, mas rejeitou o veredicto e disse que não tem intenção de regressar ao tribunal, denunciando que está a ser vítima de um "julgamento político" que visa "eliminá-lo da arena política".
No entanto, o membro bósnio da presidência colegial reuniu-se hoje de manhã com uma delegação da União Europeia (UE) na Bósnia e com os embaixadores de vários países da UE.
"Os ataques brutais ao acordo de paz de Dayton e à ordem constitucional (...) devem ser interrompidos", escreveu Becirovic numa declaração no dia anterior, acrescentando que esta era uma "ameaça direta à paz e à estabilidade no país e na região".
Na sua mensagem de hoje nas redes sociais, na qual pareceu querer aliviar as tensões, Dodik reiterou o seu apelo a discussões políticas no país, sem o envolvimento de representantes estrangeiros, numa referência a Christian Schmidt, um antigo ministro alemão cuja legitimidade na Bósnia ele não reconhece.
Dodik deverá reunir-se ainda hoje em Belgrado, capital da vizinha Sérvia, com o Presidente sérvio Aleksandar Vucic, anunciou a presidência sérvia.
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