Tensões políticas parecem ter por base uma "inventona" de Erdogan

Um analista português de política internacional defendeu hoje que a tensão política que começou há praticamente uma semana com a detenção do presidente da câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, aparenta ser uma "inventona" do atual poder turco.

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© REUTERS/Bernadett Szabo

Lusa
26/03/2025 15:12 ‧ há 3 dias por Lusa

Mundo

Turquia

Em declarações à agência Lusa, para comentar os acontecimentos políticos recentes na Turquia, Felipe Pathé Duarte, professor na NOVA School of Law e coordenador do War and Law LAB, lembrou as semelhanças com o que aconteceu há uns anos atrás, quando houve uma alegada tentativa de golpe de Estado. 

 

"Agora, isto pode ter um efeito contrário, porque acho que a possibilidade de uma crescente pressão económica, a reação institucional e a mobilização sustentada, podem permitir que o movimento de protesto evolua para um desafio muito mais sério ao governo de [o Presidente turco, Recep Tayip] Erdogan", sustentou Pathé Duarte.

Para já, prosseguiu o analista português, essa probabilidade "parece baixa", pois existem vários fatores a ter em conta, sobretudo dois, para detetar uma evolução nesse sentido.

"O primeiro, os indicadores económicos, e o segundo, o uso frequente da força excessiva. Consoante a evolução destes dois fatores, conseguimos perceber se há uma mobilização sustentada e se isso pode, a longo prazo, desafiar o poder de Erdogan. Mas sim, isto começa com uma aparente 'inventona'", argumentou.

Segundo o investigador, a detenção de Imamoglu, na quarta-feira, parece fazer parte de um plano mais vasto de Erdogan para garantir outro mandato nas eleições presidenciais de 2028, ao mesmo tempo que perturba quaisquer planos de oposição para poder mobilizar ou selecionar um candidato presidencial competitivo. 

"Embora aqui o fator que pode desencadear de imediato os protestos generalizados tenha sido a detenção [de Imamoglu], acho que há muitos turcos que também estão a sair à rua para protestar contra o aparente retrocesso democrático do país", sustentou, sendo prova disso a reação do Estado turco.

"Acho pouco provável que os aliados estrangeiros pressionem neste momento Erdogan para travar a repressão da oposição, devido àquilo que se sabe da importância cada vez maior em termos geopolíticos e geoestratégicos do país, nomeadamente no conflito entre a Ucrânia e a Rússia e sobretudo como sendo um ponto de estabilidade da Síria. E, perante estas duas situações fundamentais para o Ocidente, não me parece que os aliados estrangeiros, particularmente os ocidentais, pressionem a Turquia", frisou.

Para Pathé Duarte, Imamoglu surge como a "figura-chave" do principal partido de oposição da Turquia, o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata que o escolheu como Candidato presidencial), sendo necessário perceber que a detenção ocorre num momento em que o 'mayor' de Istambul está cada vez mais a surgir como uma "espécie de sério concorrente" a Erdogan nas presidenciais de 2028.

"Depois do forte desempenho nas eleições municipais de 2024, [Imamoglu] parece um sério adversário a Erdogan nas próximas presidenciais, inclusivamente com algumas sondagens turcas a sugerirem que este carismático presidente da Câmara de Istambul venceria as eleições se se realizassem hoje", sublinhou.

Daí que, para o professor na NOVA School of Law, a detenção tem tudo a ver com a popularidade de Imamoglu, embora não se possa perder de vista que as autoridades turcas têm também reprimido várias outras figuras da oposição, não só aquelas que estão ligadas ao CHP, mas também ao Partido da Igualdade e Democracia do Povo Pró-curdo ou do Partido Democrático (DEM).

"E quase todos foram acusados de fraude, de apoio a grupos terroristas, incluindo ao PKK [Partido dos Trabalhadores do Curdistão]. Portanto, o que temos aqui são esforços para reprimir a dissidência que tem vindo a alimentar receios sobre o crescente autoritarismo da Turquia, de Erdogan, e o enfraquecimento do Estado de Direito do país. Portanto, sim, o facto de [Imamoglu] ser a principal força da oposição tem a ver com isso", referiu.

Milhares de pessoas têm saído às ruas em Istambul e noutras cidades turcas nas últimas noites para protestar contra a detenção de Imamoglu, detido na quarta-feira passada sob a acusação de corrupção e ligações terroristas, tendo ficado em prisão preventiva no dia anterior. 

A tensão política na Turquia continua a aumentar depois de Erdogan, no poder há mais de duas décadas, ter avisado que não ia tolerar "ataques de grupos marginais e 'hooligans' urbanos".

A comunidade internacional e organizações internacionais, como a ONU, têm criticado a detenção do autarca e de vários manifestantes, incluindo jornalistas.

Segundo o ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya, 1.418 suspeitos foram detidos na última semana em manifestações consideradas ilegais pelo Governo.

Leia Também: EUA preocupados com detenções e manifestações na Turquia

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