O alerta norte-americano foi feito durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, convocada de urgência para abordar o ataque russo que visou na semana passada Kryvyi Rih, cidade natal do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky localizada na região de Dnipro, que provocou várias vítimas civis.
O ataque, que matou pelo menos 20 pessoas, incluindo nove crianças, e feriu mais de 70 civis, aconteceu numa altura em que os Estados Unidos tentam promover um cessar-fogo no conflito iniciado em fevereiro de 2022.
"Entendemos que o míssil carregava uma ogiva de fragmentação, sendo responsável pela terrível perda de vidas. Este ataque é, infelizmente, apenas um numa série de tragédias terríveis que ocorreram nos últimos três anos. Lembra-nos que acabar com esta guerra o mais rápido possível deve permanecer como foco", afirmou a diplomata norte-americana Dorothy Shea.
"Em particular, pedimos à Federação Russa que tenha em mente que ataques como aqueles em Kryvyi Rih e execuções de prisioneiros de guerra têm o potencial de prejudicar os esforços de paz e todas as discussões dependentes", frisou a representante de Washington nas Nações Unidas.
Dorothy Shea defendeu ainda que quer a Ucrânia quer a Rússia devem implementar integralmente os compromissos de cessar-fogo que foram assumidos durante conversações indiretas em Riade, na Arábia Saudita.
"O mundo está a ver. Apelamos a ambos os lados para que exerçam contenção e demonstrem que o seu compromisso com a paz é real", acrescentou.
A embaixadora concluiu a sua declaração com mais um aviso: "Não teremos paciência para negociações de má-fé ou violação de compromissos".
Na segunda-feira, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já havia manifestado descontentamento com os bombardeamentos contínuos e "loucos" da Rússia contra a Ucrânia.
"Não estou satisfeito com o que está a acontecer com os bombardeamentos [russos na Ucrânia], porque estão a bombardear como loucos neste momento", afirmou Trump na Casa Branca, em resposta a uma pergunta sobre o porquê de não ter aplicado tarifas alfandegárias a Moscovo.
Na reunião de hoje do Conselho de Segurança da ONU, vários países, como a França e o Reino Unido, afirmaram que as ações do Kremlin (presidência russa) não refletem nenhum desejo de paz.
"Encontramo-nos aqui, mais uma vez, para condenar mais ataques russos que mataram e feriram muitos civis ucranianos (...). As ações do Kremlin não refletem nenhum desejo de paz que eu possa detetar. São ações de um Governo que continua determinado a destruir a Ucrânia, que desdenha dos esforços de mediação e menospreza as vidas de civis", afirmou a embaixadora do Reino Unido junto da ONU, Barbara Woodward.
"Sob a liderança dos Estados Unidos, uma proposta de cessar-fogo está sobre a mesa. A bola está do lado da Rússia há semanas. É hora de o Kremlin parar de enrolar. É hora de mostrarem que estão comprometidos com a paz, como dizem estar. Porque o Presidente Zelensky deixou clara a vontade da Ucrânia", insistiu.
Já o embaixador francês, Jérôme Bonnafont, acusou Moscovo de "não estar a negociar de boa-fé" e de estar a tentar arrastar as negociações para um cessar-fogo.
Na reunião esteve igualmente o líder do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), Tom Fletcher, que se focou no impacto da ofensiva em Kryvyi Rih, frisando que foi o ataque mais mortal a prejudicar crianças desde fevereiro de 2022, quando a guerra começou.
Num olhar mais amplo para o conflito, Fletcher sublinhou que os civis estão a pagar um preço devastador, com a ONU a verificar a morte de menos 12.910 pessoas, incluindo 682 crianças, e de quase 30.700 feridos em todo o território ucraniano de 24 de fevereiro de 2022 a 31 de março deste ano.
"O verdadeiro número é provavelmente muito maior", disse.
Tom Fletcher refletiu ainda sobre a necessidade urgente de proteger a saúde materna e reprodutiva, indicando que, desde o início da guerra, os partos prematuros representam quase 50% de todos os nascimentos, colocando mães e recém-nascidos em alto risco.
"A violência de parceiros íntimos, incluindo outras formas de violência de género, aumentou 36% durante este período. Mulheres deslocadas, especialmente refugiadas, estão entre as que enfrentam os desafios de saúde mental mais graves, com acesso limitado à proteção e cuidados", denunciou ainda o representante.
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