Numa entrevista hoje publicada no diário Süddeutsche Zeitung, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Johann Wadephul, explicou que a Alemanha está a analisar "se o que está a acontecer na Faixa de Gaza é compatível com o Direito Internacional Humanitário".
"Estamos a analisar isso e, caso seja necessário, autorizaremos novas entregas de armamento, com base nesta análise", precisou o chefe da diplomacia alemã.
"Israel também está exposto a outras ameaças graves à sua segurança e existência: dos [rebeldes iemenitas] Huthis, do [movimento xiita libanês] Hezbollah, do Irão. E Israel deve ser capaz de defender-se dessas ameaças, também com sistemas de armamento alemães", sustentou Wadephul, sublinhando igualmente a particular responsabilidade da Alemanha em relação a Israel.
Para a Alemanha, a segurança de Israel é uma "razão de Estado", recordou.
"Somos defensores dos interesses do Estado de Israel, que é o único lar para os judeus, onde se podem sentir seguros num Estado próprio", mas "isso não significa que um Governo possa fazer o que quiser", declarou Wadephul, num tom crítico quanto ao caminho que a guerra em Gaza tomou.
Israel declarou a 07 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para "erradicar" o Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra naquele território palestiniano fez, até agora, mais de 54.000 mortos, na maioria civis, e mais de 123.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas agravou-se mais ainda pelo facto de a partir de 02 de março, e durante quase três meses, Israel ter impedido a entrada em Gaza de alimentos, água, medicamentos e combustível, que estão desde a semana passada a entrar a conta-gotas.
Hoje, o Departamento das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) considerou que Gaza é atualmente o lugar mais faminto do mundo, onde "100% da população corre o risco de morrer de fome".
Há muito que a ONU declarou a Faixa de Gaza como estando mergulhada numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica", a fazer "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio naquele território palestiniano e de estar a utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
Após um cessar-fogo de dois meses, o Exército israelita retomou a ofensiva na Faixa de Gaza a 18 de março e apoderou-se de vastas áreas do território, tendo o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciado, no início de maio, um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005.
Por isso, a maioria da população foi expulsa e está concentrada em três pontos dentro do enclave: Cidade de Gaza (norte), a zona central de Deir al-Balah e al-Mawasi, no sul, enquanto mais de 80% do território de Gaza está sob ordens de evacuação ou é considerada área militar, inacessível à população.
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