"A saúde não é um custo que deve ser contido. É um investimento que deve ser cultivado - um investimento nas pessoas, na estabilidade e no crescimento económico", afirmou hoje, num discurso durante a abertura da conferência Ibrahim Governance Weekend, em Marraquexe.
Ghebreyesus admitiu que os cortes súbitos da ajuda externa por países ocidentais estão a afetar a distribuição de medicamentos, o pagamento a profissionais de saúde e o financiamento de outras infraestruturas.
No entanto, vincou, a paz é a única coisa "que é ainda mais fundamental para o futuro de África do que a saúde".
"O melhor remédio é a paz", disse, acrescentando que "em muitas partes do nosso continente, o maior obstáculo ao desenvolvimento é o conflito".
Como exemplo, deu o Sudão, onde estão a ser registados surtos de sarampo, malária, dengue, difteria e poliomielite e, em particular, cólera, que está a matar "milhares de pessoas".
"A OMS começou a vacinar na semana passada, mas, sem acesso, não podemos chegar às pessoas em risco. Precisamos de um cessar-fogo para permitir que as nossas equipas cheguem às zonas onde é necessário vacinar para salvar vidas", explicou.
Esta situação mostra como "a paz é a condição prévia para a saúde", reiterou o secretário-geral da OMS.
Ghebreyesus adiantou que a OMS está trabalhar para ajudar os países africanos a tornarem-se mais eficientes e autossuficientes perante a redução na ajuda externa, desafio que a própria organização enfrenta.
Algumas das medidas propostas aos governos são a introdução ou aumento dos impostos sobre o tabaco e o álcool, seguros de saúde pública e ferramentas tecnológicas.
"Mas a transição para a autossuficiência não se limita à saúde. Tem a ver com todos os domínios do desenvolvimento", salientou, defendendo uma zona de comércio livre continental e o aumento do comércio intra-africano, uma melhor cobrança de impostos e investimentos na criação de emprego e na indústria".
"A OMS está pronta a apoiar todos os países e a trabalhar com todos os parceiros para transformar esta crise numa oportunidade. As escolhas que fizermos agora irão moldar o futuro do financiamento da saúde a nível mundial. Temos de as fazer corretamente", avisou.
O IGW 2025 realiza-se entre 01 e 03 de junho em Marraquexe, sob o tema "Alavancar os recursos de África para colmatar o défice financeiro".
Políticos, académicos e ativistas vão debater como podem os países africanos mobilizar-se para acelerar o desenvolvimento social e económico num contexto internacional de declínio da ajuda externa.
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