A investigação, premiada com 100 mil euros, "revelou que certas regiões do cérebro são afetadas de maneira diferente pelas várias proteínas tóxicas responsáveis pela doença de Alzheimer", comprometendo "o funcionamento cerebral normal" e provocando "sintomas como a perda de memória de curto prazo e a desorientação espacial", salienta a Fundação Bial, que institui o prémio.
"Ao compreender como cada tipo de proteína tóxica afeta cada região do cérebro e ao conseguir mapear a composição dessas regiões afetadas, esta investigação ajuda a abrir o caminho para um diagnóstico mais precoce e melhores tratamentos para aquela que é a patologia degenerativa mais prevalente em Portugal e no mundo", acrescenta a fundação, numa nota.
No seu trabalho, Tiago Gil Oliveira, neurorradiologista no Hospital de Braga e professor na Universidade do Minho, analisou ressonâncias magnéticas de doentes quando estavam vivos e os seus cérebros depois de morrerem e usou ratinhos geneticamente modificados para "mapear ao nível molecular a composição" das diferentes regiões cerebrais afetadas por proteínas tóxicas e "testar de que modo a manipulação das vias moleculares alteradas afeta a aprendizagem e memória".
A Fundação Bial concedeu, ainda, duas menções honrosas, ambas na área da oftalmologia, no valor de 10 mil euros.
A equipa de Luís Abegão Pinto, Joana Tavares Ferreira e Quirina Tavares Ferreira, do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, foi distinguida por uma "solução inovadora" de rastreio de doenças oculares - em especial o glaucoma e a retinopatia diabética, que podem levar à cegueira irreversível - baseada numa ferramenta de inteligência artificial.
A segunda menção honrosa foi para os investigadores e docentes José Paulo Andrade e Ângela Carneiro, da Universidade do Porto, pelo trabalho sobre a "importância da prevenção, diagnóstico precoce e intervenção clínica, com foco na modificação de fatores de risco", da degenerescência macular da idade, "uma doença grave e incapacitante que afeta a mácula, região da retina responsável pela visão central e com pormenor, que permite ler as letras de um livro ou reconhecer o rosto das pessoas".
O trabalho demonstra que "manter uma alimentação saudável, como comer frutas, vegetais e peixe, bem como fazer exercício físico pode ajudar a proteger os olhos", tal como evitar fumar.
"O diagnóstico precoce, realizado através de observação regular do fundo ocular a partir dos 55 anos, é essencial para a identificação de doentes com risco de progressão e para o tratamento precoce da forma neovascular, permitindo, em muitos casos, preservar a visão", sustentam José Paulo Andrade e Ângela Carneiro.
A Fundação Bial foi criada em 1994 pela farmacêutica com o mesmo nome, em conjunto com o Conselho de Reitores das Universidade Portuguesas, e tem como missão "incentivar o estudo científico do ser humano, tanto do ponto de vista físico como espiritual".
O Prémio Bial de Medicina Clínica, atribuído de dois em dois anos, "visa galardoar uma obra intelectual, original, de índole médica, com tema livre e dirigida à prática clínica, que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância".
O júri da edição de 2024 foi presidido por José Melo Cristino, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e teve como membros docentes da Universidade Nova de Lisboa, da Universidade da Beira Interior, da Universidade do Porto, da Universidade de Lisboa, da Universidade do Algarve, da Universidade do Minho e da Universidade de Coimbra.
O presidente do júri é convidado pela Fundação Bial, que financia o prémio, e oito elementos são indicados pelos conselhos científicos das escolas de medicina portuguesas, de entre os seus membros.
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