A quarta sessão do julgamento, que prossegue terça-feira no Porto e tem já mais de 20 audições de testemunhas em atraso, ficou hoje marcada pelo depoimento do subintendente da PSP Dennis da Cruz, que relatou a forma como "imperava o medo" em relação à participação na AG de 13 de novembro de 2023.
Segundo a testemunha, ouvida por videoconferência, a operação "complexa" incidiu sobre "um conjunto de elementos que protegiam, a todo o custo, e a título de proveitos financeiros, um determinado regime", no caso o liderado por Pinto da Costa.
"A minha convicção foi que o que se passou ali foi nada mais nada menos do que o arregimentar [de apoiantes], com coordenação e liderança de Fernando Madureira", acrescentou.
Para Dennis da Cruz, estava em marcha um plano para "silenciar sócios legítimos do FC Porto, cuja única coisa que queriam era mostrar a sua insatisfação".
"Qual o motivo, do ponto de vista da investigação, levou àquele clima de intimidação e terror? O que terá levado [aos acontecimentos], (...) a motivação, foi uma hipotética candidatura de uma pessoa, o senhor André Villas-Boas", notou.
Ter sido o próprio coordenador da investigação a notificar pessoalmente Villas-Boas, Henrique Ramos e Bruno Ramos, um chefe da PSP que presenciou os atos como sócio na AG, prendeu-se com a necessidade de "salvaguardar" segredo na operação, tendo este trio como "testemunhas chave".
"Iniciámos a investigação, com uma equipa restrita, e avançámos em força e em segredo", revelou.
Dennis da Cruz considerou que Fernando Madureira e Sandra Madureira arquitetaram um plano para condicionar o clima em torno da reunião magna, inclusive utilizando como "pressão" a distribuição de bilhetes para um jogo pelos núcleos, num dos grupos de whatsApp que constam da acusação.
O subintendente defendeu que a putativa candidatura de André Villas-Boas esteve por detrás da criação de "umas primárias" em torno da AG extraordinária, quando estava em causa uma alteração estatutária, ecoando a mesma expressão utilizada, na primeira semana de julgamento, por Fernando Madureira.
De resto, a testemunha acusou ainda o ex-líder dos Super Dragões de ser o "promotor dos factos ilícitos" ocorridos na AG, em novembro de 2023, e de não ter tentado travar os conflitos, além de ter estado "em conluio" com outro arguido, Hugo Carneiro 'Polaco', para arrebatar pulseiras de acesso à reunião magna.
O representante de Fernando e Sandra Madureira, Gonçalo Cerejeira Namora, exigiu hoje a gravação do depoimento do polícia por "manifesta animosidade" e por se ter referido três vezes a sete dos arguidos como "pretorianos", um termo que considerou "pejorativo".
Perante o protesto da procuradora Graça Ferreira, que considerou a interpretação de alguma inflamação na instância "manifestamente excessiva", a juíza deferiu o pedido depois de questionar o advogado, que pode agora, em nome dos clientes, apresentar queixa contra Dennis da Cruz.
Acrescentou ainda que Fernando Madureira recebeu cartões e números de sócio e distribuiu-os, incitando pessoas a passar à frente na fila, num grupo de WhatsApp com 166 elementos, nos quais se inserem sete arguidos.
Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.
Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.
Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.
Leia Também: Pretoriano. Testemunho de Henrique Ramos interrompido por "contradições"