A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) regressou, esta terça-feira, às notícias, depois de ter sido conhecido que estavam a decorrer buscas, nomeadamente nas instalações do organismo, por suspeitas, entre vários crimes, de corrupção.
Até ao momento, há dois arguidos, um empresário e um ex-secretário geral da FPF, segundo disse à Lusa fonte da Polícia Judiciária (PJ). A agência adiantou também que se tratam do antigo deputado do PS António Gameiro e do antigo secretário-geral FPF Paulo Lourenço.
As buscas foram inicialmente confirmadas pelo diretor nacional da PJ, Luís Neves, que disse que em causa estava a venda da antiga sede da FPF e que tinham sido cumpridas 20 buscas.
Em comunicado, a PJ precisou que as buscas estavam relacionadas com a venda, em 2018, da referida sede, localizada na rua Alexandre Herculano, em Lisboa, por mais de 11 milhões de euros..
Em causa estão suspeitas dos crimes de recebimento indevido de vantagem, corrupção, participação económica em negócio e fraude fiscal, confirmou a polícia.
Também em comunicado, a PJ avançou que, durante a investigação, "foram identificadas um conjunto de situações passíveis de integrarem condutas ilícitas relacionadas, sobretudo, com a intermediação da venda" do edifício em questão.
Durante o dia de hoje foram cumpridos 20 mandados de busca em casas, uma instituição bancária e sociedades de advogados localizados nos distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém.
O Ministério Público também confirmou as buscas "em vários locais do país, designadamente em instalações da Federação Portuguesa de Futebol" e que no "inquérito investigam-se factos relacionados com a alienação da antiga sede da FPF".
A investigação, que teve início em 2021, está a cargo do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e vai continuar "com a análise à prova agora recolhida e com os competentes exames e perícias".
De acordo com o despacho a que a agência Lusa teve acesso, o Ministério Público deu autorização para a apreensão de informação relevante que pudesse constar em computadores, telemóveis e outros suportes informáticos.
As diligências foram executadas por 65 inspetores e 15 especialistas de polícia científica da PJ, contando ainda com a participação de cinco juízes de instrução criminal, seis magistrados do Ministério Público e quatro representantes da Ordem dos Advogados.
Fernando Gomes e Tiago Craveiro "não são visados"
O edifício da sede da Federação Portuguesa de Futebol foi vendido em 2018, altura em que Fernando Gomes era presidente da FPF, cargo que deixou em fevereiro deste ano, sendo sucedido por Pedro Proença, e tomou hoje posse como presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP).
Ao contrário do que inicialmente tinha sido noticiado, Luís Neves acabou por esclarecer que Fernando Gomes e Tiago Craveiro, ex-CEO da FPF, "não são visados" e que os "suspeitos estão bem identificados". Há a possibilidade de haver mais arguidos.
"Nenhuma das pessoas de que aqui falei são intervenientes nesta ação. Vim dar a cara, para que fique esclarecido que Fernando Gomes não tem de ficar diminuído na sua ação", declarou aos jornalistas, à margem da tomada de posse de Gomes como presidente do COP.
Federação Portuguesa de Futebol "surpreendida" com buscas da PJ
A Federação Portuguesa de Futebol reagiu, em comunicado, às buscas e ao processo de investigação que "envolve a investigação de negócios relativos a anteriores mandatos", entre 2016 e 2020, confessando-se "surpreendida" com a intervenção das autoridades na sua sede.
O organismo que tutela o futebol português garante que "irá até às últimas consequências face a qualquer prática ilícita ou criminal que venha a ser apurada", mostrando-se "totalmente inflexível na defesa dos interesses da instituição", em que se constituirá como "assistente em todo e qualquer processos que lesem os interesses patrimoniais e/ou reputacionais da FPF".
[Notícia atualizada às 19h36]
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