"Contactaram a MBW no dia 5 de maio, não no contexto de um hospital modular, mas para aferir do tipo de soluções que teríamos para um possível internamento de doentes", explicou Mário Fernandes, sócio-gerente da empresa, ouvido hoje na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Incêndio no HDES, reunida em Ponta Delgada.
Segundo o empresário, o contacto telefónico foi feito diretamente pela secretária regional da Saúde e da Segurança Social, Mónica Seidi, que tem sido acusada de impor a solução do hospital modular, como forma de recuperar a atividade assistencial daquela unidade de saúde, em vez de investir na recuperação do edifício principal, danificado pelo incêndio.
Durante a audição parlamentar, Mário Fernandes lembrou que a intenção inicial do executivo de coligação (PSD, CDS-PP e PPM), era construir um hospital modular de pequena dimensão, aproveitando a área do heliporto, apenas com duas valências (um serviço de urgência e um internamento com 120 camas).
"Era uma solução de 1.675 metros quadrados. Na altura só estávamos a conseguir pôr 92 camas, mas não era porque não quiséssemos cumprir as 120, era apenas para tentar ficar dentro do quadradinho do heliporto, para tentar mitigar o custo das infraestruturas", justificou o sócio-gerente da MBW, ouvido pelos deputados.
O empresário lembrou que, aos poucos, os membros do Conselho de Administração do HDES foram sugerindo alterações ao projeto inicial do hospital modular, de forma a incluir também um bloco operatório, um bloco de partos, urgência pediátrica e serviços de neonatologia, além de equipamentos de Raio X, TAC e até ressonância magnética, o que fez derrapar os valores iniciais da obra, orçada em 11 milhões de euros.
"O que é certo é que, em 31 de agosto, a urgência estava a ser inaugurada", apenas 34 dias após a adjudicação da obra, disse Mário Fernandes, realçando que, mesmo com todas as alterações introduzidas ao projeto, a empresa conseguiu cumprir os 60 dias de prazo inicialmente previsto.
Questionado sobre se o hospital modular poderia vir a ser instalado noutra ilha, em caso de catástrofe (faculdade que tinha sido anunciada pelo executivo açoriano como uma das grandes vantagens desta opção), o depoente garantiu que isso seria possível, apesar da sua complexidade, e do custo financeiro associado, que poderia rondar 30% do seu valor inicial.
O sócio-gerente da MBW disse também que nenhum dos membros do Conselho de Administração do HDES manifestou, na altura, qualquer oposição à opção do hospital modular, posição que contraria as afirmações feitas esta quarta-feira pela então presidente, Manuela Gomes de Menezes, que disse que se fosse obrigada a adjudicar essa empreitada, iria demitir-se.
"A dr.ª Manuela Menezes, no nosso entender, sempre foi um catalisador da solução! Nós sentíamos que toda a gente estava no mesmo comprimento de onda!", insistiu Mário Fernandes, recordando que a ex-administradora participou em quase todas as reuniões de trabalho em que esteve presente e nunca se opôs aquele investimento.
O incêndio que deflagrou no dia 04 de maio no HDES, na ilha de São Miguel, teve origem "em baterias de correção do fator de potência", e foi combatido durante cerca de sete horas pelos bombeiros voluntários, obrigando à transferência de todos os doentes internados para outras unidades de saúde, incluindo para fora da região.
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