Susana Peralta quer "abordagem mais musculada" contra pobreza infantil

Lisboa, 04 jun 2025 (Lusa) -- A economista e uma das autoras do relatório "Portugal Balanço Social 2024", Susana Peralta defende "uma abordagem mais musculada" no combate à pobreza nas famílias com crianças, com mais transferências sociais, melhores condições habitacionais e reforço da educação.

 economista e investigadora Susana Peralta

© Susana Peralta

Lusa
04/06/2025 07:14 ‧ há 2 dias por Lusa

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Em declarações à agência Lusa, por ocasião da apresentação pública do relatório, a economista apontou para o "desempenho positivo e até acima das expectativas" da economia portuguesa nos últimos anos, com exceção para o "enorme buraco" vivido durante a pandemia de covid-19, entre 2020 e 2022.

 

Susana Peralta salientou que, em termos de pobreza, Portugal conseguiu melhorar e voltar a valores próximos do período pré-pandemia, graças a um crescimento económico acima da média da zona euro e com aumentos do salário real, mas também políticas de combate ao fenómeno e de reforço do Estado social.

Mas frisou que o país continua a ter dificuldade em fazer com que esse crescimento económico seja plenamente inclusivo, apontando como "preocupante" que, apesar do crescimento económico, a taxa de pobreza "teima" em não descer dos 16,5%.

"Quer dizer que, apesar de estar a crescer, a economia tem alguma dificuldade em tornar-se uma máquina mais eficaz em retirar pessoas da pobreza", apontou.

De acordo com Susana Peralta, "há bolsas de fragilidade relativamente ao mercado de trabalho que acabam por determinar esta resiliência da pobreza", que a economista admite que possam estar relacionadas com "características estruturais da economia", mas também com baixos níveis de escolaridade ou um acesso intermitente ao mercado de trabalho.

Afirmou que a composição familiar é também "um dos grandes determinantes da pobreza", explicando que numa família que esteja acima do limiar da pobreza, o nascimento de uma criança pode fazer com que essa mesma família caia abaixo do nível de pobreza, o que deveria levar a uma reflexão sobre a capacidade do Estado social para mitigar estes casos.

A investigadora salientou que a prevalência de pobreza infantil continua "bastante elevada" e que, por isso, deveria haver "uma abordagem mais musculada relativamente às famílias com crianças".

"Temos de ter transferências sociais mais generosas para fazer com que as famílias com crianças consigam passar para cima do limiar da pobreza. Em segundo lugar, relativamente às famílias das crianças pobres, é evidente que é também necessário um esforço nas situações habitacionais porque estas crianças vivem muitas vezes em situações habitacionais que não são dignas", defendeu Susana Peralta.

Acrescentou que é também preciso "um reforço mais direcionado no ensino", destacando que "as crianças que crescem na pobreza [estão] a partir para uma competição muitos, muitos quilómetros atrás das que não crescem na pobreza" e que para a escola continuar a funcionar como elevador social é preciso "uma abordagem diferenciada que coloque mais recursos ao serviço das crianças mais pobres".

No entanto, admitiu, "a pobreza é algo com o qual as pessoas que tomam decisões têm pouco contacto", o que pode fazer com que "a consciência do problema seja menor do que seria necessário para levar a uma velocidade de ação mais rápida".

Do relatório, Susana Peralta destacou a falta de confiança que as pessoas mais pobres têm nas instituições, o que classificou como "um grande problema", e que a investigadora entende que também deveria motivar uma reflexão sobre a qualidade da democracia.

Destacou ainda o capitulo sobre as condições de trabalho, o qual mostra que é mais provável as pessoas pobres estarem fora do mercado de trabalho, terem contratos a prazo, trabalharem de forma intermitente ou estarem sujeitas a condições de trabalho mais penosas ou perigosas.

Deu como exemplo que a taxa de pobreza entre as pessoas desempregadas seja quatro vezes mais à de quem está empregado ou o dobro entre quem trabalha a tempo parcial, comparando com quem trabalha a tempo inteiro.

Leia Também: "Mais de 2 milhões estão em risco de pobreza ou exclusão" em Portugal

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