O BE requereu a audição urgente do ministro Nuno Melo por ter dito não lhe competia comentar política interna norte-americana, após uma pergunta sobre o plano de Donald Trump para a Faixa de Gaza, que pretende reinstalar palestinianos noutros locais.
O requerimento foi rejeitado na comissão parlamentar de Defesa com os votos contra de PSD, Chega e CDS-PP, contando com votos a favor de PS, BE e Livre.
Ainda antes do início da discussão deste ponto, o presidente da Comissão de Defesa Nacional informou que está agendada uma audição regimental do ministro para o próximo dia 25.
Na apresentação do requerimento, o líder parlamentar do BE manifestou-se favorável a que as duas audições pudessem acontecer no mesmo dia, caso o requerimento fosse aprovado.
Fabian Figueiredo disse estar em causa o respeito pelo direito internacional e considerou não ser possível "aceitar que uma declaração desta gravidade", por parte do Presidente norte-americano, "possa ser reduzida a uma singularidade da política doméstica de um Estado", por parte de Nuno Melo.
Pelo PSD, o deputado Silvério Regalado considerou "caricato e inaceitável" chamar o ministro à Assembleia da República para dar explicações sobre declarações "que ele não fez", entendimento partilhado pelo Chega, que ironizou, questionando se o BE quereria também chamar Donald Trump ao parlamento português.
Mariana Vieira da Silva, do PS, referiu que, mais tarde no mesmo dia, o primeiro-ministro "teve de reformular as declarações do ministro" e defendeu que, em "matérias de soberania é importante que Portugal tenha clareza na forma como se posiciona" e fale "a uma só voz", considerando que os dois governantes "não disseram o mesmo".
O deputado João Almeida, do CDS-PP (partido que Nuno Melo lidera), considerou que a proposta do BE "não tem pés nem cabeça" e classificou-a como "um absurdo", sustentando que "o parlamento não se pode prestar a estes disparates" de chamar um ministro "sobre algo que ele não disse".
O coordenador do Livre defendeu que o ministro deveria ter tido "uma posição forte" de condenação às declarações do Presidente Donald Trump, considerando que a solidariedade que Portugal hoje tem "de prestar a outros", como a Palestina, é a mesma "que mais tarde" poderá vir a precisar de pedir.
Estas declarações motivaram um comentário de João Almeida considerou que a comparação entre Portugal e a Palestina "não é aceitável", sendo até "ofensivo".
"Portugal não está a fingir que não acontece nada, está no terreno a assumir a sua posição [...] de defesa da existência de dois Estados" afirmou.
O PSD acusou a esquerda de não se solidarizar com os reféns israelitas ou com as famílias daqueles que "foram assassinados de forma mais vil, mais horrível" pelo Hamas, e considerou que existe nestas forças políticas um "anti-americanismo primário".
O debate na comissão subiu de tom quando o deputado Bruno Vitorino mostrou uma imagem de Rui Tavares alegadamente "a fazer a saudação nazi", o que motivou um protesto do visado, dizendo que a imagem é falsa.
Tavares pediu ao deputado do PSD que assumisse e se retratasse, argumentando que "há uma linha inultrapassável, mas Bruno Vitorino justificou que não fazia "ideia se a foto é verdade ou falsa, nem [lhe] interessa" e que a sua intenção era demonstrar como a esquerda faz "números políticos".
O episódio motivou várias intervenções, entre as quais do presidente da comissão, Pedro Pessanha, do Chega, que pediu aos deputados que tenham cuidado e verifiquem se os elementos que apresentam são verdadeiros.
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