Estas acusações ocorreram durante um debate agendado pelo Livre sobre o tema "Europa, segurança e Democracia", que decorreu enquanto o Conselho de Estado estava reunido com vista a uma eventual dissolução da Assembleia da República, em ambiente de plena crise política.
Os deputados até tinham antecipado votações para hoje, mas à última hora a maior parte das iniciativas passaram para sexta-feira de manhã.
Liliana Reis, deputada do PSD, aproveitou o debate para visar a oposição, em particular o PS.
"Na Odisseia de Homero, à semelhança de Circe, que quando o Ulisses chegou ao palácio o tentou transformar num porco, Trump ensaiou um semelhante intento com o Presidente da Ucrânia. Mas este parlamento, senhoras e senhores deputados, nos últimos dias foi muito mais longe: não tentaram apenas transformar o nosso primeiro-ministro num porco, como nos conduziram a todos a uma pocilga, através de um populismo vazio que a todos condena porque nenhum inventa ou resolve", acusou.
Num discurso inflamado, Liliana Reis criticou o PS por ter colocado a sua cara num cartaz no Fundão, distrito de Castelo Branco, de onde é natural, depois de ter votado contra a abolição das ex-Scuts por disciplina de voto, apesar de ser a favor.
"Indignam-se hoje com cartazes do Chega quando utilizam as mesmas técnicas de subversão do terrorismo dos jacobinos franceses liderados por Robespierre ou dos regimes democráticos autocráticos modernos que transformam órgãos de comunicação social em instrumentos de propaganda e doutrinação dos mais incautos. Hoje não cortam cabeças, hoje vão mais longe porque matam paulatinamente a honra e a dignidade dos homens e das mulheres que servem Portugal", atirou.
A social-democrata completou: "Pedro Nuno Santos nunca foi um anjo e por isso nunca nos salvará".
De seguida, a deputada Isabel Moreira recordou o dia 07 de novembro de 2023, quando o socialista António Costa apresentou a sua demissão na sequência de uma investigação judicial.
"Quando António Costa se demitiu, sozinho, sem ser ladeado dos seus ministros e das suas ministras, na sequência de um parágrafo que constava de um comunicado da Procuradoria-Geral da República, Luís Montenegro disse: «a manipulação e a mentira têm sempre um prazo de validade» e, na mesma intervenção, usou palavras como «compadrio», «pântano» e falou imediatamente em corrupção administrativa e política", respondeu.
Isabel Moreira continuou, saudando o Livre por ter apresentado um projeto que recomenda ao Governo a realização de um estudo sobre a resistência do sistema jurídico português contra um choque autoritário.
"Vivemos tempos históricos em que o Governo demitido multiplica-se em órgãos de comunicação social, adjetivando a oposição, depois de ter tentado fazer um negócio com um dos mais solenes poderes de escrutínio em pleno debate e uma moção de confiança que quis apresentar. Vivemos tempos em que se apela ao debate direto com os portugueses, sem intermediação jornalística ou parlamentar. Um elogio descarado à democracia direta, enquanto se desenvolvem teorias da conspiração e se apelida de 'fake news' as notícias que incomodam", criticou.
A socialista visou ainda o presidente do parlamento, José Pedro Aguiar-Branco, que na quarta-feira à noite acusou o secretário-geral do PS de ter feito "pior à democracia em seis dias do que André Ventura em seis anos".
"No Conselho Nacional do PSD houve palmas a quem apelidou o líder do PS sem vergonha e perlas piores. Uma amostra do que acontece quando o desespero se instala, o apego ao regime acaba e a coragem desaparece", lamentou.
Num outro momento do debate, no qual foram apenas apresentados projetos de resolução, o comunista António Filipe notou com algum humor que o parlamento está "em pré dissolução" a fazer recomendações a um Governo que já se demitiu.
"Isto faz lembrar a parte final do romance «Equador» de Miguel Sousa Tavares em que o Governador de São Tomé escreve uma carta ao Rei D. Carlos antes de se suicidar e a carta chega depois do Regicídio, ou seja, uma carta escrita por um homem que se suicidou depois a escrever, para um homem que morreu antes de a ler e é um pouco aquilo que estamos hoje aqui a fazer", gracejou.
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