Filipe Albuquerque em exclusivo: "Le Mans? O objetivo é andar na frente"

Filipe Albuquerque disputa este ano as 24 Horas de Le Mans pela 12.ª vez na carreira. A poucos dias da prova, o Auto ao Minuto falou com o piloto em entrevista.

Filipe Albuquerque em Detroit.

© Getty Images

Notícias ao Minuto
11/06/2025 12:14 ‧ ontem por Notícias ao Minuto

Auto

24 horas Le Mans

Atualmente a competir nos Estados Unidos da América, Filipe Albuquerque volta este fim de semana às corridas na Europa – e logo nas míticas 24 Horas de Le Mans.

 

O piloto, oriundo de Coimbra, integra os esforços da Cadillac WTR (Wayne Taylor Racing), que tem uma participação esporádica nesta prova do Mundial de Resistência (WEC). Os seus colegas serão Jordan e Ricky Taylor.

O Auto ao Minuto falou com Albuquerque numa entrevista exclusiva, na qual antecipamos não só a participação em Le Mans, como também abordamos a época atual até ao momento, entre outras temáticas.

No IMSA, primeiro pódio da época em Detroit. Qual o balanço após cinco rondas?

O balanço é duro. Não vou dizer que não é positivo, mas também não é negativo. Porquê? Inserido nesta equipa, que é a Cadillac, e a ambição que eles têm, a equipa onde estou e a minha maneira de estar nas corridas é para ganhar. Mas o que é certo é que a transição para um carro novo foi bem mais difícil do que nós estávamos à espera. E, portanto, as primeiras quatro corridas do ano foram muito além das expectativas e dos resultados a que nós nos tínhamos proposto. Mas, o que é certo, é que a cada corrida percebemos bastante sobre o carro e fizemos progressos e melhorias. Sendo que sabíamos que era uma questão de tempo, de paciência e de trabalho árduo para melhorar o carro. E isso foi mesmo o que aconteceu, porque à quinta corrida tivemos um pódio. A vitória escapou-nos das mãos simplesmente nas últimas três voltas, porque estávamos em primeiro. Correu-nos bem, o andamento estava muito mais competitivo.

E isso é a parte positiva: trabalhámos, mantivemo-nos unidos entre nós, equipa, e fizemos progressos no carro. E, quando assim é, às vezes não temos de temer que as coisas sejam difíceis e se tornem um pouco mais difíceis por vezes. Eu gosto sempre de ver o copo meio cheio, que é: encontrámos o equilíbrio do carro e espero, agora, continuar a ser competitivo para o resto do ano.

Depois de três vice-campeonatos consecutivos, desde o ano passado que os resultados não têm sido tão bons – em 2024 só fizeram dois pódios. É também um reflexo da competitividade crescente do campeonato nesta nova era?

Sim, sim. Acho que podemos também dizer isso. No ano passado tivemos alguns azares; o andamento estava lá. Nomeadamente na última corrida do ano – em que, assim que passámos para primeiro quando faltava uma hora e meia para acabar, estávamos bem na calha para fazer mais um pódio. E o que é certo é que um acidente, carro batido, sem luzes, à noite, não conseguimos evitar um acidente. Tivemos algum azar no ano passado e este ano foi uma mudança.

Mas, sim, o campeonato está cada vez mais competitivo, cada vez há mais carros, e portanto, também temos de respeitar essa competitividade e ser um bocadinho humildes em não querer ganhar todas, ou ir ao pódio em quase todas as corridas. Sendo que a Porsche tem feito um ano brilhante e perfeito até agora.

Quatro anos de Acura, este ano volta a um Cadillac que encontrou no passado numa versão muito diferente. Quais são as impressões sobre este carro de 2025?

Bom, muito, muito diferente. Diria mesmo que, em alguns aspetos, é o oposto do Acura. E, depois, também tem a ver com a evolução que a Cadillac trouxe para este ano. Os construtores podem evoluir de ano a ano e a Cadillac trouxe uma evolução que eles também não conheciam tão bem. E, portanto, demorou tempo a afinar os parâmetros de afinação que nós temos. Isso tornou a nossa vida mais difícil. Mas, lá está, trabalho árduo, mantemo-nos todos unidos, e conseguimos fazer a diferença.

O IMSA e o WEC são, ambos, campeonatos de resistência. O carro em que estará em Le Mans é o mesmo, embora numa equipa diferente. Explique-nos: quais são as diferenças entre os campeonatos? E, duração da corrida à parte, tem de 'mudar o chip' para Le Mans?

O IMSA já é competitivo; Le Mans vai ser ainda mais competitivo. Vão ser mais de 20 carros a correr à geral, todos eles com muito bons pilotos, muita experiência. É uma corrida particularmente difícil. Vamos ver como está o tempo para a corrida. Mas, lá está: acho que toda a gente quer ganhar e vai ser interessante ver quem é que, ao mesmo tempo, vai pensar sempre no longo prazo. Ou seja, temos de acabar a corrida para podermos ganhar. Por vezes, há pilotos e equipas que forçam tanto numa fase inicial que acabam por ter problemas bastante cedo.

É possível, de alguma forma, delinear uma estratégia sólida numa prova que tem tanto de gestão ao nível de pneus, combustível, ritmo, fadiga, imprevistos, chuva…?

É possível, e toda a gente vai ter uma estratégia de corrida. E, depois, é claro que há pilotos que arriscam demais e têm problemas e cometem erros. Há outros carros que têm azares. A prova em si já é muito difícil, a pista é muito longa, e azares acontecem. É uma sobrevivência durante as 24 horas, a ver quem consegue manter aquele ritmo tão alto sem que haja um acidente ou um erro humano.

Como é que um piloto se prepara, ao nível físico e mental, para uma corrida tão longa e exigente?

A preparação acaba por ser sempre a mesma porque, ao fim e ao cabo, vamos conduzir sempre um carro. Le Mans em si até acaba por ser mais fácil fisicamente porque há muitas retas. Mas, mentalmente, é difícil. A pressão se calhar também é mais alta do que nas outras corridas. Mas, ao fim e ao cabo, a mentalidade é ganhar a corrida, querer ganhar. Nós queremos ganhar todas as corridas e a preparação é sempre a mesma. Se não fosse, teríamos de dizer que não estávamos a preparar tão bem as outras.

Numa prova de 24 horas pilota-se de dia, de noite, ao amanhecer, entardecer, anoitecer… Explique-nos, como é lidar com tantas mudanças de condições numa só corrida?

Quando é a seco, eu acho que já estou habituado e gosto da parte da noite. É muito interessante. Eu acho que o que acaba por ser mais difícil é quando começa a chuviscar e não conseguimos ver bem a diferença durante a noite, estamos com pneus 'slick' e acordamos às 03h00 e a pista está molhada mas não sabemos bem onde. E, noutros sítios, está seca. Portanto, por vezes somos surpreendidos com uma pista molhada quando estávamos à espera de uma pista seca. E ler essa pista, sentir essa aderência e a diferença é muito, muito difícil. Mas é aquilo que estávamos a falar há pouco: a sobrevivência no limite. Por vezes cometemos erros, mas, ao mesmo tempo, isso faz os heróis.

24 Horas de Le Mans são esta semana. Como funciona a corrida?

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Falava de erros, e inevitavelmente o ser humano é mais propenso a erros quando há cansaço. Como é gerir o descanso dentro do fim de semana da corrida? Consegue-se, de facto, dormir e repousar quando se está fora do carro?

Sim, eu consigo disciplinar-me bem. Durmo muito durante a corrida, e isso para mim é importantíssimo. Porque os primeiros dois turnos – ou seja, as primeiras seis horas – que nós fazemos, diria que até são relativamente fáceis porque ainda estamos frescos.

Na verdade, não são 24 horas, porque nós acordamos às 08h00 de sábado e a corrida só acaba às 16h00 no domingo. E, portanto, são muito mais do que 24 horas. Eu gosto de dormir a seguir a cada turno que faço – gosto de comer, dormir, e é só isso que faço: como, durmo e volto a andar. Não faço mais nada. Porque é a dormir que consigo recuperar as minhas energias.

Já acumula 11 participações em Le Mans. O circuito ainda tem segredos e surpresas para si?

Sem dúvida. Le Mans é uma corrida única e, como é citadina, a pista muda todos os anos. Há sempre alguma diferença no asfalto de ano para ano, há melhorias por parte do campeonato. Os corretores são diferentes. E, portanto, saber exatamente esses pontos de aderência da pista… é claro que a maior parte já estão gravados na cabeça, mas há sempre alguma coisa a aprender.

Sétimo lugar em 2024, terceiro em 2023. A Cadillac tem sido competitiva em Le Mans nos anos recentes. Este ano, a marca já chegou ao top cinco na última ronda. Quais crê serem as suas possibilidades para esta prova – o pódio parece-lhe possível?

Bom, acho que sim, acho que o pódio é possível. Mas eu acho que vamos poder falar com quase toda a gente, todos os construtores que estão em Le Mans, e todos eles vão dizer a mesma coisa, que é: o objetivo é ganhar. Eu acho que é fácil dizer isso, mas é claro que só três vamos ver.

Eu acho que, primeiro, temos de ver o andamento de toda a gente. A Cadillac ficou em quinto na última corrida, portanto é um carro competitivo. O nosso objetivo é, claramente, andar na frente. Mas é claro que nem sempre é como esperamos.

Como estamos numa equipa que está em Le Mans pela primeira vez, completamente americana, não temos feito o Campeonato do Mundo – entrámos por inscrição. Eu acho que, ao mesmo tempo, temos de fazer o nosso trabalho, fazê-lo bem. E eu acho que nós, ao fazermos esse trabalho e concentrando-nos em nós, vamos ser competitivos. E, depois, vamos ver onde vamos estar. Mas acho que é fácil tanto estar entre os cinco primeiros – e quem está nos cinco primeiros está facilmente a lutar pela vitória – como é possível estar fora dos dez primeiros. E sou muito vago, mas o que é certo é que o campeonato está muito competitivo.

O campeonato está muito competitivo, mas a Ferrari está a dominar até agora – venceu todas as corridas deste ano e também ganhou em Le Mans nas últimas duas épocas. É o 'alvo a abater' claro?

Sim, sem dúvida. A Ferrari, se calhar, é a favorita. Ganhou as últimas edições e as últimas corridas. E, portanto, eles têm andado muito bem. Mas acho que chegamos agora aqui a Le Mans e há um 'reset' de andamentos – até porque há o 'Balance of Performance', que é o equilíbrio da 'performance' de toda a gente. E, portanto, vamos ver como vai ser. Eu duvido que eles não vão ter tanta vantagem como tiveram até agora. Temos de esperar para ver.

Também temos em prova Bernardo Sousa nos LMGT3, António Félix da Costa nos LMP2. O que espera dos seus – nossos – compatriotas?

Bom, acho que o perfeito para Portugal seria ganhar todas as categorias, que é possível. O Bernardo está numa equipa muito, muito boa, muito competitiva, também ambiciona ganhar. O António já ganhou Le Mans também e a equipa dele também é muito boa. Mas, volto a dizer: não adianta, e falo para todos. Muitas das vezes temos carros super rápidos, mas que não acabam por problemas, por erros… Nem sempre ganha o carro mais rápido. Portanto, eu acho que temos capacidade individual para ganhar, mas a prova é madrasta.

Esta é uma participação esporádica no WEC – um campeonato onde já foi feliz. Visa um regresso a tempo inteiro no futuro?

Gostava, gostava. Mas a oportunidade tem de surgir. Estou muito contente a fazer o campeonato americano. Vamos ver o que o futuro nos reserva.

Estamos em Portugal, um país onde o desporto motorizado não tem tanta expressão. Sente que ainda é dada pouca atenção do público aos portugueses no automobilismo?

Acho que há um público muito adepto do desporto automóvel, mas é pequeno comparado com a dimensão do futebol. Não nos podemos esquecer também que Portugal tem o Rali de Portugal – que atraiu milhões de pessoas a verem as especiais que houve no norte e centro do país. Isso moveu muitas pessoas e, portanto, há paixão pelo desporto automóvel.

E acho que há muita gente que vê também a resistência, também há muita gente que vê a Fórmula 1. Acabamos por ser um país pequeno, não conseguimos ter alguém na Fórmula 1. Há essa paixão, mas se calhar também alguma culpa dos 'media' ao não falarem tanto, pelo menos, nos portugueses nas provas lá fora.

O que sentiu por ver o Rali de Portugal a visitar a sua cidade, Coimbra?

Adoro, adoro, e claro que fico muito feliz. Acho que o melhor elogio que posso ter é, exatamente, estrangeiros dizerem… Uma vez conheci uma pessoa, perguntou-me de onde eu era e eu disse Coimbra. E, 'ah, sei perfeitamente'. 'Sabes onde é Coimbra?'. 'Sei perfeitamente'. E ele começou a dizer as terriolas onde passava o Rali de Portugal há muitos anos, que era conhecido como o melhor rali do Campeonato do Mundo WRC. Voltar a existir o Rali de Portugal naquela zona, e em Coimbra que é a minha cidade, é espetacular. Adoro. Infelizmente, muitas vezes não tenho estado disponível nessa data por corridas. Mas ver também a quantidade de amigos que se unem para irem ver o rali na região centro, é bonito.

Leia Também: Filipe Albuquerque nas 24h de Le Mans com equipa norte-americana

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