Mia Tomé lança, a 30 de janeiro, o seu novo álbum 'Há um Herbário no Deserto', inspirado na poesia de Emily Dickinson.
Ao Notícias ao Minuto, a artista portuguesa explicou como se apaixonou por esta poetisa norte-americana e pelas suas palavras, algo que descreve como "óbvio e fatal".
Depois de 'Projeto Natália' que contou com várias apresentações internacionais tais como Washington DC, Boston e Nova Iorque, Mia Tomé regressa agora em nome próprio com um trabalho novamente debruçado na poesia no feminino.
Porque resolveu fazer um disco-homenagem à obra de Emily Dickinson?
O meu trabalho tem vindo a focar-se na Poesia no Feminino, a Emily Dickinson é uma poetisa que leio e admiro há vários anos, mas sem dúvida que surge na sequência dos meus trabalhos anteriores. É muito curioso perceber que tudo está ligado como uma constelação: Natália Correia, As Três Marias, Ana Luísa Amaral... Portanto pareceu-me óbvio e quase fatal que tinha que pegar agora na obra de Dickinson. Visitei o estado do Massachusetts (onde Emily nasceu) em 2022 e 2023 em tour, e aí tive a certeza absoluta que queria trabalhar essa evocação da Natureza, entender a melancolia dos bosques e florestas que ela descreve, aqui transposto para o estado do Arizona onde o disco foi gravado. Sempre que puder, irei celebrar as vozes das mulheres autoras, que no seu tempo pouco foram escutadas.
Que histórias conta-nos ao ouvido 'Há um Herbário no Deserto'? O que nos conta as suas palavras?
Há as histórias que Emily nos oferece nos seus poemas, mas há também as histórias que aconteceram no Arizona, no Rancho onde aconteceu a gravação do disco, onde tudo se cruza. Emily fala-nos do vigor da natureza, o deserto no Arizona grita-nos essa força também, a força do som dos coiotes, o poder transcendente do silêncio, o impacto que um céu laranja ao pôr do sol pode ter. Emily fala-nos de desejos de cavalgar, de Damas vermelhas que são livres em colinas, no Arizona fizemos um paralelo com a figura das Mulheres do Oeste, que galopam nos seus cavalos e tomam decisões por si mesmas. As minhas palavras juntam-se às destas mulheres livres, e ao amor profundo que nutro por Oracle (Arizona), onde descobri artistas maravilhosas, criadoras magníficas com quem tenho a sorte de colaborar.
A viagem por este novo disco faz-se entre ritmos pop e folk, mas traz também sons que o deserto oferece. Que mais valias traz estes sons às canções?
O Deserto de Sonora é para mim o lugar mais bonito do mundo, é impossível que aquelas paisagens não nos moldem, não nos toquem de alguma forma. É muito poderoso estar no Grand Canyon ver o Rio Colorado ao fundo, todas essas emoções que me envolveram nestes lugares durante as gravações só podem estar vincadas naquelas fita em que as canções foram gravadas. Se é uma mais valia? Não sei, mas que nos transporta para aquele lugar, onde o infinito parece possível de agarrar com as mãos, sim.
Entre temas de voz falada (como nos tem habituado) surge agora o primeiro tema de voz cantada 'Como as Montanhas gotejam de Sol-Pôr', que conta com a participação dos músicos norte-americanos Alex Tighe, Francis Kelly e Nicosa. Como surgiu esta colaboração?
Desde 2016 que visito com regularidade os EUA, porque fui estudante lá, mas é em 2022 que começa a minha 'parceria' com o Arizona. Primeiro com uma pesquisa sobre as Mulheres do Oeste Americano (que influenciou e muito este álbum) e foi aí que conheci os músicos que referiu. Visitei o estúdio no Rancho pela primeira vez com o Francis, e percebemos que o meu próximo álbum tinha que ser gravado ali, naquele lugar com aquelas pessoas. É sem dúvida uma história de amor entre o deserto e a poesia. A palavra dita, ainda me faz mais sentido trabalha-la ali, com as influências do deserto, onde o tempo é outro, a calma e a harmonia têm outra forma.
Tem-se dividido entre o cinema, o teatro, podcast, publicidade e a música. Como é fazer isto tudo? Tem alguma preferência?
Parece muita coisa, mas no fundo é sempre a mesma coisa [risos]. Trabalhar com a voz e com as palavras, tentando levar emoções e sensações às pessoas. A minha preferência é o que tiver que fazer naquele dia, seja a dar voz a um anúncio, a conversar com pessoas ou cantar em cima de um palco. Amo o que faço nas suas mais variadas formas.
Neste momento, está com mais projetos em mão além do lançamento de 'Há um Herbário no Deserto'?
Sim, divido-me como voice over em Publicidade, Dobragens e Narrações, e em Abril regresso ao Teatro com o espetáculo 'Victor ou as crianças ao Poder' da companhia 'Os Possessos'. Podem também escutar o podcast 'Teatro de Bolso' da Antena 3.
Há concertos agendados? Onde e quando?
Em fevereiro há uma apresentação 'pocket' na Polónia, haverá dia 21 de março no Auditório Almeida Garrett, no Porto, 23 de março na Estufa Fria de Lisboa. Há mais surpresas internacionais, mas só serão reveladas em março.
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