Helena Sacadura Cabral acaba de lançar, aos 90 anos, o seu primeiro livro infantil, 'Mãos Pequenas, Coração Grande', uma história sobre a importância da ternura, da empatia e do cuidado pelo outro, que conta com ilustrações de Carolina Branco.
Após ter publicado mais de 45 livros destinados a adultos, a autora, dona de uma das gargalhadas mais icónicas de Portugal e de um currículo invejável e cheio de feitos, abraçou mais este desafio.
"Desde que fui mãe, tinha o hábito de escrever as histórias que contava para adormecer os meus filhos. Assim, já não as alterava quando as repetisse. Um dia a editora Graça Dimas propôs-me publicar um deles. E eu, que gosto de desafios, aceitei", contou em entrevista ao Notícias ao Minuto, revelando que 'Mãos Pequenas, Coração Grande' foi inspirado nos "valores transmitidos em família" e, em particular, na avó materna, de quem era "muito próxima e que era uma imensa ternura com os netos".
Apesar de ter passado toda uma vida a escrever para adultos, a economista - e primeira mulher em muita coisa, incluindo a entrar para os quadros técnicos do Banco de Portugal – não sentiu "grandes dificuldades" a escrever para os mais novos, uma vez que, como recordou, "o afeto e a ternura são válidos para adultos e crianças".
Desta forma, 'Mãos Pequenas, Coração Grande' pode também ser uma 'lição' para adultos. "A falha deste tipo de valores nos adultos faz com que os filhos padeçam do mesmo mal na sua educação. As crianças vivem com a presença diminuta dos pais, porque ambos trabalham. Antes, as avós davam uma ajuda preciosa, mas agora elas também trabalham. Logo as crianças são muito influenciadas pelas redes sociais que podendo ser um precioso meio de educação, na maioria, são o contrário", notou Helena Sacadura Cabral.
Escrever faz parte da sua estratégia para ser manter jovem, assim como "ler muito, estar muito atentar ao mundo que nos rodeia" e conviver. "Por natureza, sou uma mulher que não quer perder nada do que se passa à sua volta. Além, disso, os meus amigos são muito mais jovens do que eu, andam entre os 50 e os 70 anos. São o lado boémio da minha vida, já que na sua maioria são artistas", confessou.
Kizomba. "E porque é que não havia de dançar?"
E para o corpo acompanhar a mente (e alma), Helena Sacadura Cabral continua, apesar das suas nove décadas de vida, a praticar exercício físico e até a dançar… kizomba.
Questionada sobre este hobbie, indignou-se, mostrando que, para ela, a idade é mesmo só um número: "Homessa! E porque é que não havia de dançar? Não tenho nenhum defeito físico que o impeça, gosto de o fazer e, portanto, havendo oportunidade, não vou perdê-la. Ou acha que aos 90 anos estou morta para certo tipo de prazeres? Não estou, não".
Atitude esta muito elogiada nas redes sociais, onde é seguida por milhares e milhares de internautas – no Instagram são mais de 102 mil e no LinkedIn 82 mil. "Quando for mais velho, quero ser como a Helena", lê-se a certa altura, numa das muitas publicações da "gaja porreira", como quer ser recordada um dia mais tarde.
Para já, ainda está pronta para abraçar tudo aquilo que "Deus queira". "Estou nas mãos Dele e tentarei cumprir até ao fim", assegurou, mostrando-se fiel às suas crenças.
"A política partidária desiludiu-me tanto"
Recentemente, precisamente nas redes sociais, falou sobre a morte do Papa Francisco, admitindo que a viveu como se tivesse perdido alguém que a "compreendia". Sobre o novo Sumo Pontífice – Leão XIV – a escritora admitiu, ao Notícias ao Minuto, que tem "bastante esperança". "Cada um tem o seu caminho, mas creio que a orientação será semelhante à de Francisco", disse.
Já sobre a política, que já disse odiar, muito também tendo em conta o ex-marido Nuno Portas e ao filho Miguel Portas (que morreu em 2012, aos 53 anos), Helena Sacadura Cabral, que é também mãe de Paulo Portas, explicou ao Notícias ao Minuto que o que a desiludiu foi a "política partidária" e não a política em si mesma.
"A política 'per se' interessa-me muito porque é um meio posto à nossa disposição para torna a vida dos povos melhor. A política partidária desiludiu-me tanto, que me afastei completamente dela. Mas sei tudo o que se passa no mundo e, como economista, avalio o que isso pode significar para Portugal", concluiu.
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