"Horror". Identificado autor de agressão "violenta" a ator Adérito Lopes

O ator Adérito Lopes foi agredido por um grupo de extrema-direita antes de subir ao palco num espetáculo de homenagem a Camões. Peça foi cancelada e o ator acabou por ser hospitalizado em Lisboa.

adérito lopes

© aderitolopesoficial/ Instagram

Notícias ao Minuto com Lusa
11/06/2025 08:14 ‧ ontem por Notícias ao Minuto com Lusa

Cultura

Adérito Lopes

A peça 'Amor é um fogo que arde sem se ver', marcada para terça-feira, dia 10 de junho, viu a sua última récita ser cancelada depois de o ator Adérito Lopes ter sido "violentamente" agredido à porta da companhia de teatro A Barraca, em Lisboa.

 

Tudo aconteceu por volta das 20 horas, quando vários atores estavam a chegar ao Teatro Cinearte, no Largo de Santos, onde se cruzaram à porta "com um grupo de neonazis com cartazes, programas", com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.

"Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara", explicou a encenadora Maria do Céu Guerra ainda na terça-feira, acrescentando que Adérito Lopes teve de receber tratamento hospitalar, depois de ser assistido por bombeiros.

Segundo a também atriz de 82 anos, o grupo era composto por cerca de 30 pessoas, que começaram "por provocar a atriz, que vinha com 'headphones' e, portanto, nem ouviu o que diziam."

Maria do Céu Guerra lembrou que se assinalam hoje os 30 anos do ataque por neonazis que matou Alcindo Monteiro: "Trinta anos depois, este país ainda não arranjou forma de se defender dos nazis".

"É terrível. E tenho aqui o elenco, 14 atores, todos temendo pela sua saída do teatro. E que querem falar, dar a sua opinião, querem dizer o que sentem em relação a isto e à proteção que lhes é merecida", afirmou a atriz na terça-feira, sublinhando quão vulneráveis se sentem.

Nas palavras de Maria do Céu Guerra, A Barraca é um símbolo de paz, mas para outros não sabe o que será.

PSP deteve suspeito: Um  homem com 20 anos

A Polícia de Segurança Pública explicou à Lusa que foi chamada ao local por volta das 20h15 por "haver notícia de agressões", onde foi contactada por um homem de 45 anos, que "informou que, ao sair da sua viatura pessoal, foi agredido por um indivíduo".

A PSP, com as características do eventual suspeito fornecidas pelo ofendido e por um seu amigo, encetou várias diligências nas ruas adjacentes ao Largo de Santos, tendo sido possível localizar e intercetar um homem com 20 anos, suspeito de ser o autor da agressão, adiantou a mesma fonte.

A PSP identificou os intervenientes neste caso - suspeito, ofendido e testemunha - e vai comunicar todos os factos apurados ao Ministério Público.

Da política ao setor da Cultura, eis as reações

As reações a esta agressão não tardaram a chegar, desde a política ao setor da Cultura. Numa publicação partilhada na rede social X, o comunista António Filipe lamentou a situação, escrevendo: "Solidariedade total com Adérito Lopes, ator do teatro A Barraca agredido por neonazis. É urgente acabar com a impunidade destas associações criminosas (as tais que o Governo apagou do Relatório de Segurança Interna)."

Também a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, recorreu às redes sociais para assinalar a ocorrência: "Os neofascistas atacam os livros, o teatro e quem faz a cultura. Fazem-no porque acham que podem. O Governo do PSD retirou do relatório de segurança interna a ameaça da extrema-direita. É o maior risco à nossa democracia. Solidariedade com o teatro d’A Barraca. Vamos à luta."

Já esta quarta-feira, também Isabel Moreira comentou a situação nas redes sociais, marcando a conta oficial do primeiro-ministro e questionado: "Luís Montenegro, quais as prioridades do governo em matéria de política de segurança e de educação? Anunciar mega operações contra imigrantes e desistir da educação para a cidadania como disciplina obrigatória? E acordar?"

O porta-voz do Livre também assinalou o sucedido na rede social X. "A agressão de que foi alvo o ator Adérito Lopes merece a mais veemente condenação, e uma investigação que castigue os responsáveis. É inaceitável que uma peça seja cancelada por causa de um grupo neofascista. É o resultado de não haver clareza na rejeição do discurso de ódio", escreveu Rui Tavares.

Também no setor várias foram as pessoas que condenaram o ataque. A atriz Luísa Ortigoso fez uma publicação na rede social Instagram, onde se lê: "A violência dos cobardes. No dia em que passam 30 anos do homicídio de Alcindo Monteiro. Toda a solidariedade com o Adérito Lopes e A Barraca."

Também Ângela Pinto escreveu: "Afinal, quem espalha o horror e a insegurança são criaturas de extrema-direita…", começou por escrever a atriz, tendo acrescentado depois as hashtags: "não passarão"; "fascismo nunca mais"; "paz"; "democracia". 

"Afinal, quem espalha horror e insegurança são de extrema-direita"

Atriz Ângela Pinto manifesta-se após ator Adérito Lopes ser agredido à porta de teatro.

Notícias ao Minuto | 06:26 - 11/06/2025

Leia Também: "Impunidade". BE e PCP condenam ataque a ator e 'apontam dedo' ao Governo

Partilhe a notícia


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas