A época desportiva do FC Porto tem ficado marcada por muitas mutações no onze inicial, nomeadamente no eixo defensivo. Depois da reforma de Pepe e da saída de David Carmo para o Olympiacos, os portistas foram obrigados a reforçar o centro da defesa.
Nehuén Pérez e Tiago Djaló chegaram emprestados ao FC Porto no verão passado, com o argentino a ter assumido a posição de titular indiscutível no eixo da defesa portista. De resto, têm sido vários os colegas de equipa a formar dupla ou trio de centrais com o sul-americano ao longo da temporada.
Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, João Manuel Pinto, antigo central do FC Porto, considera que esta constante mutação no eixo defensivo não têm trazido a consistência de que os dragões precisam para estabilizar um setor tão importante como a defesa.
Apesar de apontar Nehuén Pérez como o melhor central que, neste momento, se encontra à disposição de Martín Anselmi, o antigo internacional português considera que o argentino, que ficou em definitivo nos dragões, deve melhorar para a próxima temporada.
"Não podemos esquecer que foi o início de época do FC Porto foi muito difícil. A preparação da equipa, o planeamento da equipa, a entrada algo tardia da nova direção para trabalhar esta temporada... São coisas que foram tratadas em cima do joelho e muitas das vezes não se faz bem. Não podemos esquecer que esta nova direção tem um elemento que é uma lenda do FC Porto, que é o Jorge Costa. Conhece muito bem o futebol português e jogadores pelo mundo fora. Certamente que deve ter dado o aval sobre o Nehuén Perez ser um central que dá maior segurança à defesa", começou por dizer João Manuel Pinto.
"Não vou dizer que é o melhor do mundo, mas Nehuén Pérez não deixa de ser um excelente central. Faz parte dos quadros da seleção da Argentina e é um jogador com alguma experiência. Tem sido o jogador mais utilizado no FC Porto. Depois também a opção táctica. O Vítor Bruno utilizava dois centrais e o novo treinador utiliza três. Isto cria instabilidade e faz com que exista uma rotatividade que, muitas das vezes, não cria estabilidade na linha defensiva, que é uma das bases mais importantes numa equipa de futebol. O Otávio começou bem, mas depois houve excesso de confiança por parte do jogador e começou a perder o foco. A rotatividade é boa para dar confiança aos jogadores, mas impede a existência de uma linha defensiva titular como o Benfica ou o Sporting", prosseguiu.
João Manuel Pinto referiu que a falta de consistência nos resultados também não tem contribuído para o crescimento do FC Porto enquanto equipa.
"Quando não há resultados positivos, isso cria alguma desconfiança, instabilidade, falta de confiança acima de tudo. As coisas não têm corrido bem ao FC Porto e não é por causa do Nehuén Pérez. Foi uma época difícil para ele, mas há muitos jogadores que estão abaixo daquilo que se esperava. Dos centrais, o Nehuén foi o jogador mais regular. Mas nunca existiu essa defesa regular e compacta, com jogadores que sabem jogar quase de olhos fechados. Isso cria intranquilidade e as coisas não saem bem. Pelo facto dos resultados não aparecerem, é claro que depois a culpa recai sobre os jogadores que custaram mais", salientou, destacando que se esperava mais do antigo jogador da Udinese.
Nehuén Pérez foi contratado em definitivo à Udinese© Getty Images
"Esperamos mais de todos os jogadores, especialmente daqueles que custam mais dinheiro. Os adeptos esperavam muito mais, mas houve uma mudança de muitas coisas este ano no FC Porto. É normal que os jogadores não consigam mostrar todo o seu potencial. As pessoas dentro da estrutura do clube sabiam que este ano não havia condições para ganhar ao Sporting ou ao Benfica. O FC Porto tem bons jogadores, mas não tanta qualidade como têm os rivais, onde reina a estabilidade e a confiança. Esta talvez tenha sido a época mais difícil do FC Porto dadas todas estas mudanças", vincou.
Com a saída de Pepe no final da época passada, o FC Porto ficou reduzido a Iván Marcano como jogador com maior experiência na defesa. João Manuel Pinto refere que os azuis e brancos devem apostar na contratação de centrais experientes para a nova temporada.
"O Marcano é um jogador com outra qualidade, outra experiência, mas é preciso mais voz e mais comando. É importante ter jogadores desta qualidade dentro do balneário. Mas o FC Porto precisa de melhores centrais. São precisos jogadores que implemente respeito aos adversários. Quando os adversários jogavam contra os centrais do FC Porto, os pontas de lança tinham algum receio de enfrentá-los. Sabiam que eram jogadores agressivos, com muita qualidade e experiência. Hoje em dia a equipa do FC Porto tem miúdos com muita qualidade, mas não implementam esse respeito. Os adversários não têm medo. Por isso é que a equipa precisa de mais jogadores como o Nehuén Pérez, que é agressivo", destacou.
"O FC Porto tem de tirar muitas ilações do que aconteceu esta época e atacar um título. A equipa começou bem com a vitória na Supertaça e com resultados positivos, mas depois foi por aí abaixo. Houve mudança do treinador, jogadores em baixo de forma e que num dia estão a jogar e no seguinte estão na bancada. Não é fácil gerir isto", ressalvou o antigo central, prevendo que Nehuén Pérez vá melhorar na próxima temporada.
"É um jogador que vai conhecer melhor a cultura do clube, do país. Certamente vai ser melhor para o ano porque já conhece todos estes ingredientes. E se o FC Porto quer ser o campeão terá de investir no plantel, principalmente na zona defensiva. O FC Porto até marca com defesas, mas sofre mais do que marca", finalizou.
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