"Não sei se a palavra é caça ao cliente, mas eu diria [que haverá] uma concorrência feroz. Isto vai ficar ainda mais patente quando as taxas de juro começarem a dar sinais de baixa", afirmou João Pedro Oliveira e Costa na conferência de imprensa de apresentação das contas de 2024 (lucros recorde de 588 milhões de euros).
O Banco Central Europeu (BCE) decidiu hoje cortar novamente as taxas de juro diretoras (em 25 pontos base), na primeira reunião do ano, continuando o ciclo de redução de taxas iniciado no ano passado.
O gestor disse que a baixa das taxas de juro e a entrada de cada vez mais operadores no mercado levarão a que os bancos tenham de competir mais por clientes. A isto soma-se que agora também têm mais "capacidade concorrencial" já que têm estruturas com menos custos, estão mais capitalizados e as carteiras de crédito estão 'limpas' (baixo crédito malparado).
Contudo, acrescentou, o regulador está atento ao que os bancos fazem pois exige "racionalidade na marcação de preços" para garantir a sustentabilidade do sistema financeiro, adiantando que o Banco de Portugal está a fazer auscultações aos bancos para perceber como chegam aos seus preços.
Já sobre as taxas de juro dos depósitos (as estatísticas oficiais mostram que os bancos portugueses pagam juros abaixo da média europeia), o presidente do BPI disse que é a "lei da procura e oferta".
Ainda hoje na conferência de imprensa, o presidente do BPI defendeu a continuidade de Mário Centeno como governador do Banco de Portugal, afirmando que o aprecia "tanto em termos pessoais como profissionais" e que este tem sido independente na sua atuação.
"Ganhamos em ter o professor Mário Centeno como governador, se perguntar, a sua continuidade seria algo positivo", afirmou.
João Pedro Oliveira e Costa considerou que há demasiada regulação, designadamente sobre o sistema bancário, e que "há uma febre de forçar o mercado livre concorrencial" quando se deve deixá-lo funcionar.
Além disso, defendeu, há entidades a que os supervisores aplicam muitas regras e exigem muitos investimentos (de regulação e tecnológicos) e depois permitem a entrada de outros operadores sem as mesmas regras.
"Sou favorável a um mercado mais livre, o mercado funciona. Um dos grandes problemas da Europa é que se atrapalhou, está enredada num conjunto de regras e regulamentos", vincou, considerando que aí Donald Trump (presidente dos EUA) pôs "o dedo na ferida".
Também falando sobre a necessidade de construção para haver mais casas, João Pedro Oliveira e Costa considerou que um dos problemas para se avançar é que há demasiada burocracia, o que cria obstáculos a investimentos e à tomada de decisões atempadamente, somado ao ruído de uma sociedade que não se foca no essencial.
"Vejam o aeroporto, vai-se fazer ou não? Há ponte ou não? Agora só se fala das malas e há aí um perfume engraçado... é nisso que nos vamos concentrar? É fundamental o tema da habitação [...], a habitação só se faz com construtoras, é preciso estimular as construtoras e dar condições, quer em termos de fiscalidade quer de contratação de pessoas. Estamos a atacar a imigração e temos trabalhadores suficientes para as obras, para fazer 120 mil casas? O tema da habitação é urgência e deixamos passar o tempo...", afirmou o presidente do BPI.
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