"Uma escalada das tensões comerciais entre a UE e os EUA pode deprimir o PIB e reacender pressões inflacionistas. Tensões comerciais intensificadas entre os EUA e outros grandes parceiros comerciais podem também ter efeitos de contágio na economia da UE", indica o executivo comunitário nas previsões de primavera, hoje divulgadas em Bruxelas.
"Os episódios recentes de 'stress' nos mercados destacaram o potencial de contágio por parte de instituições financeiras não bancárias que, caso afetem o setor bancário, podem comprometer os fluxos de crédito", alerta a instituição, admitindo também "repercussões negativas nas condições financeiras globais e na procura externa da UE" devido a eventuais apertos da política monetária norte-americana.
Em conferência de imprensa na apresentação do documento em Bruxelas, o comissário europeu da Economia, Valdis Dombrovskis, apontou que "a lógica imprevisível e aparentemente arbitrária subjacente aos anúncios dos direitos aduaneiros dos EUA conduziu a incerteza da política económica mundial a níveis nunca vistos desde os momentos mais negros da pandemia de covid-19".
Tal é que "a taxa média dos direitos aduaneiros que os EUA aplicam às importações é atualmente mais elevada do que em qualquer outro momento desde a década de 1930", salientou.
Valdis Dombrovskis destacou ainda que "os anúncios dos direitos aduaneiros dos EUA em abril também resultaram em níveis muito elevados de volatilidade dos mercados financeiros", admitindo que "o sentimento é frágil, uma vez que a incerteza sobre a política comercial e a política económica mais vasta dos EUA continua a ser grande".
Precisamente devido a esta incerteza comercial, Bruxelas prevê, com base no impacto das tarifas norte-americanas anunciadas até início de abril, uma "contração notável do comércio mundial e da atividade económica".
Em concreto, no final de 2026 devido a tais tarifas o PIB mundial seria 0,4% inferior ao valor de referência e o comércio mundial cairia 2,9%.
"Enquanto o crescimento cumulativo em 2025 e 2026 nos Estados Unidos seria cerca de um ponto percentual inferior a um cenário de base sem tarifas, a UE sofreria um impacto significativamente mais suave, de cerca de 0,2 pontos percentuais", apontou Valdis Dombrovskis.
Ainda assim, "nas nossas previsões, é impossível separar os efeitos das tarifas, do aumento da incerteza e das condições financeiras mais rigorosas nas perspetivas de crescimento e inflação", adiantou o responsável, reforçando que "estes números não incluem os efeitos indiretos na confiança e no sentimento dos investidores, nem as consequências de uma potencial turbulência e volatilidade do mercado".
Nestas previsões de primavera, o crescimento global fora da UE é agora projetado em 3,2% para 2025 e 2026, abaixo dos 3,6% previstos no outono de 2024.
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