"O nosso grande concorrente é o transporte individual, não são os outros modos de transporte público, e queremos trazer mais passageiros para o transporte público, mais clientes", assumiu o presidente da Carris, Pedro de Brito Bogas, em entrevista à Lusa.
Para retirar da cidade mais do que os cerca de 130 mil carros diários, reconheceu, será necessário "melhorar a experiência da viagem", inclusive com a melhoria da velocidade comercial, já que "toda a experiência de viagem pode ser muito boa para o cliente, mas se não for feita num tempo eficiente não serve".
"Ele continua a preferir o transporte individual e, portanto, temos de tomar várias medidas para tornar a nossa velocidade comercial cada vez melhor, mais eficiente em termos de tempo para os nossos clientes", indicou.
Pedro Bogas explicou que estão a ser tomadas algumas medidas com a Câmara Municipal de Lisboa (que gere a empresa desde 2017), "quer ao nível das infraestruturas, criando novos corredores BUS, sinalizando melhor os atuais, e também ao nível da fiscalização".
"Nós somos muito penalizados pelos estacionamentos indevidos, pela circulação no corredor BUS", reconheceu.
Em setembro passado foi iniciado um serviço de fiscalização com a Polícia Municipal e, em pouco mais de seis meses, houve "três mil e tal autuações, quando no mesmo período anterior tinham sido 300".
"Houve um incremento na fiscalização e estamos a terminar o processo burocrático para termos os nossos próprios agentes a autuar como faz a EMEL", disse o responsável, acrescentando também estarem a ser desenvolvidos sistemas de prioridade semafórica.
"Estamos a desenvolver também um sistema de varrimento de corredores, com câmaras colocadas nos autocarros e que identificam os infratores, portanto, há todo este esforço de medidas, diria eu, mais imediatas para resolver o problema", apontou.
De acordo com dados da Carris, em 2024, faziam parte do universo da empresa 777 autocarros, 64 elétricos, três ascensores e um elevador, e 1.823 tripulantes -- motoristas e guarda-freio, num total de 2.505 trabalhadores da empresa.
Pedro Bogas assinalou que os trabalhadores estão a "conseguir tirar os automóveis da cidade, prestando um serviço de qualidade", e a prova está na classificação que a empresa tem alcançado em vários fóruns internacionais de 'benchmarking' [processo estratégico que envolve comparar o desempenho e as práticas de uma organização com as de outras organizações, geralmente as melhores na sua área ou setor]".
"O maior ativo da Carris é o seu capital humano, é ele o grande responsável pelo sucesso que a companhia tem garantido sempre, desde há 152 anos, e temos feito uma grande aposta, não só ao nível da formação, mas ao nível do recrutamento e ao nível das condições remuneratórias", indicou, exemplificando com os recentes aumentos salariais.
Houve, acrescentou, um aumento base "de mais de 200 euros" nos últimos dois, três anos, e subidas "nas várias verbas que estão indexadas à tabela, em subsídios com outras locações que foram criados e que não existiam". O subsídio de almoço, que estava em 10,60 euros, passou para 12.
Apesar dos acordos de atualização salarial já assinados este ano, há esta semana uma greve parcial na empresa para a redução das horas de trabalho de 40 para 35 horas, uma mudança que a administração considera pôr em causa a sustentabilidade da transportadora.
O presidente enalteceu os trabalhadores, lembrando que foram cruciais, por exemplo, na pandemia de covid-19, na Jornada Mundial da Juventude ou no apagão de abril.
A Carris, que opera o serviço público rodoviário da cidade e também elétricos e ascensores de rua, continua a recrutar motoristas no mercado nacional - tanto podem ser cidadãos nacionais como estrangeiros - e continua a ser a empresa a dar formação aos seus motoristas.
"Não temos recorrido a recrutamento noutros mercados ainda, como outras empresas tiveram que fazer, nomeadamente os operadores da TML [Transportes Metropolitanos de Lisboa], que tiveram que ir a Cabo Verde ou ao Brasil", indicou o presidente.
A empresa teve uma iniciativa que "ajudou muito" nessa contratação: um prémio para um trabalhador que levasse um candidato, quando este também ficasse contratado.
"Isso ajudou a mobilizar uma bolsa que tem sido muito relevante, mas, como nós temos uma ambição muito grande de recrutamento, temos objetivos que são difíceis de alcançar. Nós conseguimos alcançá-los. No ano passado contratámos 100 motoristas, este ano temos previsto contratar quase 200, 180 e tal motoristas", frisou.
"Estamos também muito empenhados na questão da retenção e temos estado sempre empenhados na negociação coletiva, temos tido um bom diálogo com as organizações sindicais, mas, como é evidente, os sindicatos querem sempre mais", acrescentou.
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