Juan Arias entrou para os quadros do diário espanhol em 1977, pouco depois da sua fundação (1976), foi correspondente em Roma e no Brasil, fez parte da equipa fundadora do suplemento cultural a que ele mesmo deu o nome de Babelia, como hoje recorda o jornal, de que também foi provedor do leitor. Antes de se fixar no Brasil, em 1999, e de retomar a atividade e a carreira de correspondente, ensinou na Escola de Jornalismo El País - Universidade Autónoma de Madrid e foi provedor do leitor.
Arias nasceu em 1932 em Arboleas, uma pequena localidade de Almería, na Andaluzia. Era um menino de 4 anos quando começou a Guerra Civil de Espanha (1936-1939), que nunca esqueceu, em particular o tempo de clandestinidade de seu pai, ameaçado pelas tropas do ditador Francisco Franco.
"As injustiças sociais e os excluídos tiveram sempre um papel central na sua obra", escreve hoje o jornal El País.
Formado em Teologia, Filosofia, Psicologia e Filologia Comparada na Pontifícia Universidade de Roma, Juan Arias renunciou ao sacerdócio, optando pelo jornalismo.
Iniciou a carreira na Rádio Madrid, passando depois para o jornal Pueblo, para o qual fez a cobertura do Concílio Vaticano II. Manteve-se em Roma, como correspondente, tendo trabalhado também para a televisão pública italiana RAI, até ser contratado pelo El País em 1977.
Arias foi um dos principais especialistas nos assuntos do Vaticano da imprensa espanhola, tendo acompanhado os pontificados de Paulo VI e João Paulo II. Conhecedor de línguas semíticas, identificou, como filólogo, na Biblioteca do Vaticano, o único códice conhecido escrito em armaico, a língua falada na Galileia no início da era cristã.
Juan Arias é autor de cerca de duas dezenas de livros, como 'El Dios en quien no creo', 'Jesús, ese gran desconocido', 'La Magdalena: El último tabú del cristianismo', 'Uma carta para Deus' e 'A Bíblia e os seus Segredos', os dois últimos editados em Portugal.
Uma longa conversa com o escritor português José Saramago, após a atribuição do Nobel da Literatura em 1997, deu origem a 'José Saramago: O Amor Possível', livro publicado em Portugal pela Dom Quixote.
Em 1999, quando se fixou no Rio de Janeiro com a sua mulher, a escritora brasileira Roseana Murray, Juan Arias retomou o trabalho de correspondente do diário espanhol. Trabalhou igualmente para a antiga edição digital El País Brasil.
Pelo conjunto da sua obra, como jornalista e escritor, recebeu, entre outras distinções, a Ordem de Mérito Civil de Espanha.
Nos últimos anos, Juan Arias mantinha-se como cronista do El País. O seu derradeiro artigo data de há duas semanas, 08 de novembro, dias após a vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas. Intitulado 'Trump, la parábola del trigo y la cizaña' ('Trump, a parábola do trigo e do joio'), nele escrevia: "Prefiro juntar-me à pequena caravana daqueles que se recusam a acreditar que tudo está perdido. Não está."
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