"A Nicarágua comunica a sua decisão soberana e irrevogável de se retirar do Conselho dos Direitos Humanos e de qualquer atividade relacionada com este Conselho e todos os seus mecanismos satélites", disse Rosario Murillo, copresidente do país centro-americano ao lado do seu marido, o Presidente Daniel Ortega, aos meios de comunicação social próximos do governo.
Em novembro, o parlamento nicaraguense aprovou mais uma reforma constitucional, que entrou em vigor a 18 de fevereiro e que aumenta ainda mais o domínio do casal presidencial sobre o país.
Um relatório de peritos mandatados pela ONU, publicado na quarta-feira, alertou para o facto de esta reforma minar o Estado de direito e eliminar "o pouco que resta dos controlos e equilíbrios institucionais, ao criar um executivo de copresidentes". Esta medida reduziu efetivamente os poderes judiciais, legislativos e eleitorais do Estado a meros "órgãos" a "coordenar" pela presidência.
"Estamos a assistir a uma repressão metódica de todos os que se atrevem a discordar", afirmou Ariela Peralta, membro do grupo de peritos, referindo-se a um "governo em guerra com o seu próprio povo".
O Presidente Ortega, um antigo guerrilheiro de 79 anos que liderou o país na década de 1980 após o triunfo da revolução sandinista, regressou ao poder em 2007.
É acusado pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por vários países latino-americanos de ter estabelecido uma autocracia com a sua mulher Murillo, de 73 anos, que foi elevada à categoria de "copresidente".
Ambos reforçaram o controlo sobre a sociedade nicaraguense após os protestos de abril de 2018, que consideraram uma tentativa de golpe patrocinada por Washington e cuja repressão - que matou mais de 300 pessoas - envolveu, segundo o painel, o exército, a polícia e os paramilitares.
"O chamado grupo de peritos, o Alto Comissariado e o Conselho dos Direitos Humanos tornaram-se uma caixa de ressonância para aqueles que minaram a paz e a tranquilidade", disse Murillo, referindo-se às manifestações e ao subsequente exílio de milhares de pessoas.
Denunciou ainda o que considera ser "mecanismos desrespeitosos" e "abusos contra a soberania, a igualdade dos Estados e a dignidade dos povos".
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