"O ACNUR estará presente em menos sítios" e haverá "inevitavelmente uma redução significativa do pessoal", afirmou o líder do ACNUR, Filippo Grandi, no mesmo documento, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Num comunicado divulgado posteriormente, Grandi sublinhou que se vão perder vidas: "com menos fundos, menos pessoal e uma presença reduzida do ACNUR nos países que acolhem refugiados, a equação é simples: perder-se-ão vidas".
Com cerca de 20 mil funcionários no final de setembro, o ACNUR foi fortemente abalado pela redução drástica da ajuda externa dos Estados Unidos, que representava cerca de 40% do orçamento da agência da ONU.
"As consequências para as pessoas que fogem do perigo serão imediatas e devastadoras", estimou o responsável, referindo que "os cortes orçamentais brutais no setor humanitário estão a colocar milhões de vidas em risco".
Grandi enviou também uma comunicação interna aos funcionários do ACNUR sobre as esperadas consequências do corte no financiamento pelos Estados Unidos, historicamente principal doador da organização
Neste contexto, Filippo Grandi apelou "aos Estados-membros para que honrem os compromissos com as pessoas deslocadas", defendendo ser um "momento de solidariedade, não de retirada".
Até à data, os Estados Unidos têm sido, de longe, o maior doador de ajuda externa, mas assim que voltou à Casa Branca, a 20 de janeiro, o Presidente norte-americano, Donald Trump assinou uma ordem executiva que congelou os apoios durante 90 dias.
Desde então, a administração Trump iniciou o desmantelamento da agência de desenvolvimento norte-americana USAID, que tinha um orçamento anual de 42,8 mil milhões de dólares (cerca de 39,5 mil milhões de euros) e que, por si só, representava 42% da ajuda humanitária em todo o mundo.
"Os cortes drásticos na ajuda vão tornar o mundo num lugar menos seguro, levando mais pessoas desesperadas a fugir ou a continuar a deslocar-se", estimou Grandi, exemplificando como mulheres e raparigas refugiadas ficam "em grave risco de violação e outros abusos", ou crianças que ficam sem professores ou escolas.
As populações refugiadas vão receber menos apoios em termos de abrigo, água e alimentos.
"Mais de 90% do nosso pessoal está na linha da frente, ao serviço das comunidades afetadas, com os nossos parceiros, respondemos a 43 situações de emergência, envolvendo refugiados, só no ano passado", salientou.
Em meados de fevereiro, um porta-voz do ACNUR tinha já indicado que a organização estava a travar atividades mais diretamente afetadas pela suspensão da ajuda dos EUA, como a reinstalação de refugiados naquele país.
Cerca de "600 postos de trabalho ligados a estes programas devem, por conseguinte, ser suprimidos", anunciou.
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