Putin "não quer um cessar-fogo enquanto as nossas tropas estiverem na região de Kursk", disse Zelensky numa conferência de imprensa após uma conversa telefónica em que o homólogo norte-americano Donald Trump lhe fez um ponto de situação das conversações na véspera com o presidente russo.
O exército ucraniano lançou uma ofensiva surpresa na região fronteiriça de Kursk em agosto de 2024, onde resistiu a diversos ataques russos com apoio de tropas norte-coreanas, mantendo-se agora apenas numa pequena parte após recuar rapidamente nas últimas semanas, enquanto perdeu acesso a informações e outro tipo de apoio militar norte-americano.
Na conferência de imprensa, Zelensky adiantou ter discutido a possibilidade de, no âmbito do acordo em negociação, os Estados Unidos assumirem o controlo de apenas uma central nuclear ucraniana, a de Zaporijia, atualmente ocupada pelos russos.
"Discutimos apenas uma central eléctrica, que está sob ocupação russa", disse o presidente ucraniano.
Antes, a Casa Branca anunciou que Trump sugeriu a Zelensky que os Estados Unidos poderão assumir o controlo das centrais nucleares e de energia da Ucrânia.
"O controlo americano destas centrais elétricas proporcionaria a melhor proteção e apoio possíveis para a infraestrutura energética da Ucrânia", explicou a porta-voz da presidência norte-americana, Karoline Leavitt, aos jornalistas em Washington.
Pouco menos de um mês após a tensa reunião dos líderes dos Estados Unidos e da Ucrânia na Sala Oval da Casa Branca, a presidência norte-americana frisou que, durante o telefonema, Zelensky agradeceu os esforços de paz de Trump e reiterou a "disposição para adotar um cessar-fogo abrangente".
A conversa "ajudou significativamente a avançar para o fim da guerra" na Ucrânia, acrescentou Leavitt, citando uma declaração emitida pelo Departamento de Estado e pelo Conselho de Segurança Nacional sobre o telefonema.
Aos jornalistas, Zelensky disse ainda não ter sentido na conversa de hoje "qualquer pressão" de Trump para fazer concessões à Rússia, cujo presidente rejeitou na terça-feira um cessar-fogo incondicional anteriormente aceite por Kyiv, limitando-se a aceitar uma trégua nos ataques a infraestruturas energéticas ucranianas.
"Hoje, não senti qualquer pressão", garantiu o líder ucraniano na videoconferência.
Entretanto, a Ucrânia recebeu dos seus aliados "vários" caças F-16 adicionais, disse ainda o presidente ucraniano, sem especificar o número exato.
Kyiv começou a receber estas aeronaves de fabrico norte-americano dos seus aliados em 2024.
Apesar de, segundo o Kremlin, Putin ter exigido o fim da partilha de informações militares ocidentais com as forças ucranianas como condição para desenvolver as negociações de paz, a porta-voz da Casa Branca disse que a colaboração de Washington e Kyiv se mantém.
Antes, o presidente norte-americano afirmou que "a conversa muito boa" com o homólogo ucraniano durou cerca de uma hora.
"Estamos muito no bom caminho", declarou Trump através da rede Truth Social, no final do telefonema com Zelensky.
Donald Trump e Vladimir Putin concordaram na terça-feira lançar o processo de paz com a Ucrânia com um cessar-fogo de 30 dias parcial, inicialmente limitado a ataques a infraestruturas e instalações energéticas.
De acordo com a Casa Branca, o processo, que o Governo ucraniano terá de aprovar, inclui negociações técnicas para alcançar "um cessar-fogo marítimo no mar Negro, um cessar-fogo abrangente e uma paz duradoura".
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
[Notícia atualizada às 23h06]
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