O alegado pacto com o regime do então líder líbio Muhammar Khadaffi em 2005 foi "celebrado com um regime sanguinário", com o envolvimento de dois dos assessores mais próximos, Claude Guéant e Brice Hortefeux, e tinha "o objetivo de apoiar financeiramente a campanha" de Nicolas Sarkozy, eleito Presidente em 2007, segundo o procurador financeiro Philippe Jaeglé.
"Enviar estes dois [Guéant e Hortefeux para se reunirem com Abdullah Senoussi, cunhado de Kadhafi e então chefe dos serviços secretos] é a prova do seu envolvimento total como cérebro e é por isso que nunca encontraremos qualquer vestígio escrito de qualquer instrução", disse o procurador Quentin Dandoy, pedindo que os três homens sejam condenados por suborno e conspiração criminosa.
As três visitas sucessivas a Tripoli em 2005 do então chefe de gabinete Guéant (a 01 de outubro), do próprio Sarkozy (a 05 de outubro) e do secretário de Estado Hortefeux (a 21 e 22 de dezembro) estão no centro das atenções do representante do Ministério Público.
Segundo Dandoy, a acusação e o julgamento revelaram "a existência de um conjunto de indícios" que permitem "caraterizar" os crimes de que Sarkozy é acusado, como "a omnipresença do agente de corrupção que era Ziad Takieddine", conhecido por ser um intermediário em operações obscuras, na relação que estabeleceu com Kadhafi após ser nomeado ministro do Interior, em junho de 2005.
Nas alegações finais deste julgamento, a decorrer no Tribunal de Paris, com 12 arguidos, que incluem Sarkozy e ainda três antigos ministros, foi considerado que o pacto "poderia ter viciado o resultado" da eleição presidencial de 2007 e que "corria o risco de pôr em causa a soberania e os interesses da França".
Em 07 de fevereiro, Nicolas Sarkozy, de 70 anos, começou a usar pulseira eletrónica, após a condenação pelo Tribunal de Paris a um ano de prisão num caso de escutas telefónicas, algo inédito para um antigo chefe de Estado francês.
Também foi considerado culpado por ter celebrado, em 2014, um "pacto de corrupção" com Gilbert Azibert, juiz de primeira instância do Tribunal de Cassação, juntamente com o seu advogado de longa data, Thierry Herzog.
O atual processo da acusação deverá prosseguir até quinta-feira à tarde, altura em que o Ministério Público deverá pedir as penas para os arguidos, embora o julgamento se prolongue até 10 de abril com os argumentos da defesa.
Se for considerado culpado, Sarkozy poderá ser condenado a dez anos de prisão, uma multa de 375 mil euros e ficará privado dos seus direitos cívicos durante cinco anos.
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