A revista The Atlantic divulgou, esta quarta-feira, os "planos de ataque" que estão no centro de uma polémica nos Estados Unidos, após um jornalista da revista ter sido adicionado por engano a um grupo na rede social Signal com vários altos representantes norte-americanos.
O caso foi denunciado na segunda-feira, quando o chefe de redação da prestigiada revista, Jeffrey Mark Goldberg, publicou um longo artigo onde pormenorizou as trocas de impressões entre altos responsáveis federais dos Estados Unidos sobre um plano de ataque militar aos rebeldes Hutis no Iémen, num grupo do serviço digital de mensagens Signal, ao qual foi adicionado por engano.
"Na segunda-feira, pouco depois de termos publicado um artigo sobre uma enorme falha de segurança da administração Trump, um jornalista perguntou ao secretário da Defesa, Pete Hegseth, por que razão tinha partilhado planos sobre um ataque iminente ao Iémen na aplicação de mensagens Signal. Ele respondeu: 'Ninguém estava a enviar mensagens com planos de guerra. E é tudo o que tenho a dizer sobre isso'", começou por referir Goldberg num artigo intitulado 'Aqui estão os planos de ataque que os conselheiros de Trump partilharam no Signal', publicado esta quarta-feira.
Segundo o jornalista, que divulgou capturas de ecrã das mensagens trocadas, Hegseth partilhou uma "atualização de equipa" pelas 11h44 locais de 15 de março, indicando: "O tempo está FAVORÁVEL. Acabámos de confirmar com o CENTCOM que estamos prontos para o lançamento da missão".
Posteriormente, pelas 12h15 deu conta do "lançamento dos F-18" e às 13h45 que tinha começado o primeiro ataque. "O alvo terrorista está na sua localização conhecida, pelo que DEVE ESTAR NA HORA - e também são lançados drones de ataque (MQ-9)", escreveu Hegseth.
Às 14h10 deu-se o "lançamento de mais F-18" e, às 14h15, o secretário da Defesa revelou: "Drones de ataque no alvo (É NESTE MOMENTO que as primeiras bombas cairão, enquanto se aguarda o lançamento dos alvos anteriores)".
Pelas 15h36, o responsável anunciou o "início do segundo ataque com F-18" e quer seria também feito o "lançamento dos primeiros Tomahawks baseados no mar".
"Boa sorte para os nossos guerreiros", acrescentou, ao que o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, respondeu: "Excelente".
Mais tarde, Mike Waltz, conselheiro de segurança nacional do presidente dos Estado Unidos, terá escrito: "O primeiro alvo - o principal responsável pelos mísseis - tivemos uma identificação positiva dele a entrar no edifício da namorada, que agora ruiu".
Breaking: Read the Signal messages. https://t.co/IKBYmBoQyh
— The Atlantic (@TheAtlantic) March 26, 2025
A revista decidiu divulgar as mensagens devido às declarações dos responsáveis, que insinuavam que os jornalistas "estariam a mentir sobre o conteúdos das mensagens do Signal". "Levaram-nos a acreditar que as pessoas deveriam ver os textos para chegarem às suas próprias conclusões", lê-se no artigo.
Na terça-feira, Mike Waltz assumiu a responsabilidade pela inclusão do jornalista no grupo que criou para discussão de planos militares.
"Assumo total responsabilidade. Eu criei este grupo", admitiu Mike Waltz à estação Fox News, na sua primeira entrevista desde as revelações, sugerindo que pode ter guardado o número do jornalista no seu telefone, pensando que pertencia a outra pessoa.
Já o presidente norte-americano, Donald Trump, minimizou a troca de mensagens de texto, considerando tratar-se de "uma pequena falha" e salientou que esta foi "a única falha em dois meses" da sua presidência.
Sublinhe-se que a utilização da aplicação de mensagens Signal para discutir uma operação sensível expôs a Presidência a críticas ferozes por parte dos legisladores democratas, que expressaram indignação perante a insistência da Casa Branca e dos altos funcionários da administração de que não foi partilhada qualquer informação confidencial.
Os altos funcionários da administração têm-se esforçado por explicar por que razão a aplicação disponível ao público foi utilizada para discutir um assunto tão delicado.
Entretanto, no Senado, funcionários dos serviços secretos norte-americanos negaram, numa acalorada discussão no Senado, que tenham sido partilhados dados sensíveis num 'chat' do Signal onde estava Goldberg e em que se coordenava o ataque militar no Iémen.
Leia Também: Conselheiro de Trump assume "responsabilidade" sobre grupo com jornalista