Depois do porto de Callao, no centro do Peru, Macau foi a escolha da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, para investigar como comunidades marítimas do chamado Sul Global atravessaram um dos marcos da revolução industrial, a transição da vela para o vapor.
Entreposto comercial de relevo, Macau conta com uma "história muito rica" ligada ao mar, fator que pesou na decisão do Centro para as Cidades Portuárias e Culturas Marítimas (PCMC, na sigla britânica) da universidade britânica.
"É provavelmente um dos primeiros enclaves europeus na Ásia Oriental e tem uma longa história de viagens internacionais por mar a partir de 1500", indicou à Lusa a investigadora do estabelecimento de ensino, Melanie Bassett.
A criação de uma bolsa de investigação de doutoramento vai trazer ao território um académico, que tem ainda como missão compreender como estas comunidades se podem adaptar a um futuro sustentável.
"Queremos depois olhar para as novas transições energéticas, para a descarbonização, como Macau está a fazer essa transição e se as pessoas estão conscientes das mudanças", acrescentou Bassett, que lidera o projeto "Da Vela ao Vapor, do Carbono ao Verde: Capacitar Comunidades Portuárias no Sul Global [Sail to Steam, Carbon to Green: Empowering Port Communitiesin the Global South]" na Universidade de Portsmouth.
O projeto, que se estende por um período de seis anos e meio, arrancou em fevereiro, com a investigação a incidir sobre o porto peruano de Callao, mas deverá expandir-se, mais tarde, a outras duas regiões "algures no subcontinente indiano e na África Ocidental".
Só a investigação trará resultados tangíveis, mas Bassett aponta que, com a primazia da embarcação a vapor, deu-se, em geral, a deslocação de comunidades e indústrias para longe da orla marítima. Mudanças ocorreram também em vários negócios ligados ao setor, desde a indústria pesqueira à construção naval.
"Antecipamos ver esse tipo de alterações, mas também com o advento da colonização europeia, vemos mudanças nas culturas e na arquitetura e como isso afeta a população, e depois como, ao longo do tempo, essas culturas se fundem e hibridizam para criar novas culturas e novas compreensões do mundo", disse.
"Faz parte do financiamento da Lloyds Register Foundation aprender com o passado", completou Bassett, referindo-se ao financiador do projeto que, no caso de Macau, vai contar com a colaboração da Universidade de Macau e do Museu Marítimo local.
Espera-se, além disso, que as comunidades tenham voz ativa na pesquisa. Por isso, o recrutamento do académico que vai liderar a investigação exige competências linguísticas para assegurar a comunicação com a população.
Em Macau, a língua dominante é o cantonês, embora o mandarim, idioma falado pela maior parte da população chinesa, esteja a ganhar cada vez mais espaço no território.
O recrutamento para esta investigação que se divide entre Portsmouth e Macau deverá estar concluído em abril, sendo que o projeto arranca em outubro.
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