O porta-voz do rebelde Exército de Independência de Kachin (KIA), Naw Bu, afirmou que os confrontos continuaram depois do anúncio do cessar-fogo, que deveria acelerar a entrega de ajuda humanitária a mais de 17 milhões de pessoas afetadas pelo terramoto de magnitude 7,7 na escala de Richter que atingiu o país -- assim como a China e a Tailândia - em 28 de março.
"Vimos que emitiram um comunicado a anunciar um cessar-fogo. No entanto, os ataques não pararam" por parte do Exército, afirmou Naw Bu, acusando as forças de Myanmar (ex-Birmânia) de atacarem as cidades de Bhamo e Indawgyi e de lançarem ofensivas em Waingmaw, perto da capital do estado, Myitkyina.
O porta-voz especificou que os ataques de Bhamo começaram na manhã de quinta-feira, de acordo com declarações feitas ao Myanmar Now, embora não tenha fornecido mais detalhes.
"Se atacarem, é claro que nos vamos defender e lutar. Depois teremos de enfrentar as consequências", disse Naw Bu.
Os grupos rebeldes da região alertaram que o exército está a tentar assumir o controlo total de um corredor em algumas destas áreas, enquanto as forças alinhadas com o Governo de Unidade Nacional, que está no exílio, interromperam as suas operações.
Desde o terramoto, foram registados ataques do Exército em vários estados do país, incluindo Tanintharyi, Rakhine, Kayah e Shan, onde morreram dezenas de pessoas.
Na terça-feira, a aliança rebelde birmanesa, composta pelo Exército da Aliança Democrática Nacional, o Exército de Libertação Nacional de Taang (TNLA) e o Exército de Arakan, anunciou também um cessar-fogo unilateral e temporário em resposta ao terramoto, embora as organizações de direitos humanos tenham enfatizado a importância de alcançar um cessar-fogo definitivo que estabelecerá as bases para a paz em Myanmar.
O número de mortos no sismo em Myanmar terá aumentado para 3.145 mortos e 4.589 feridos, além de 221 pessoas dadas como desaparecidas, divulgou hoje o portal de notícias birmanês Myanmar Now. A estação de rádio Democratic Voice of Burma disse ter confirmado mais de 3.900 mortes, com quase 6.000 feridos e cerca de 720 desaparecidos, números que não foram confirmados pela junta militar birmanesa.
No anterior balanço, divulgado na quinta-feira, a junta militar apontou para 3.085 mortos, 4.715 pessoas ficaram feridas e 341 estavam desaparecidas após o sismo.
O sismo, que motivou uma declaração de emergência em seis regiões, provocou a derrocada ou danos parciais em quase 21.800 casas, 805 edifícios de escritórios, 1.041 escolas, 921 mosteiros e conventos, 1.690 pagodes, 312 edifícios religiosos, 48 hospitais e clínicas e 18 hectares de plantações, segundo a junta militar.
O país está mergulhado numa crise grave desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, realizado pelos militares para anular os resultados das eleições gerais de novembro de 2020. A repressão subsequente levou a uma guerra civil que teve um enorme impacto na situação do país, agora agravada pelo terramoto.
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