Naquele que foi o primeiro 'briefing' deste ano do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Kosovo, e após a chefe da Unmik ter apresentado o seu relatório focado nas recentes eleições no Kosovo, o representante dos EUA propôs pela primeira vez estender às missões da ONU os cortes defendidos pelo Governo de Donald Trump.
"Chegou a hora de encerrar a Unmik. Recomendamos que a Unmik comece a transferir as suas funções para outras agências da ONU no terreno mais adequadas para esse trabalho, para que o processo em direção a um fim definitivo da missão seja deliberado e gradual, em vez de ser repentino", afirmou o diplomata norte-americano John Kelley.
"Os EUA estão comprometidos em erradicar gastos desnecessários em organizações internacionais. A Unmik é uma missão de manutenção da paz sem 'capacetes azuis', com 81% do seu orçamento destinado a salários de pessoal, mesmo que a missão tenha ultrapassado em muito o seu mandato original", argumentou o representante de Washington.
Nesse sentido, os EUA apelaram aos restantes 14 membros do Conselho de Segurança para que revejam o mandato da missão no Kosovo e iniciem um encerramento ordenado das suas operações, advogando que "já passou da hora de começar esta transição".
Entre os argumentos apresentados, John Kelley reforçou que a Unmik já não tem qualquer papel na governação do Kosovo e a missão continua com excesso de recursos e de pessoal.
Criada em 1999 como uma missão administrativa internacional interina no Kosovo, a Unmik sobreviveu à declaração de independência do território em 2008, à separação da Sérvia e à integração gradual do Kosovo à comunidade internacional.
Atualmente, a missão da ONU é composta por 305 funcionários civis e 18 militares.
O futuro do mandato da Unmik depende do Conselho de Segurança, que teria que decretar o seu fim, como já aconteceu com outras missões de paz da ONU.
Enquanto essa deliberação acontece, os EUA pediram hoje que as próximas reuniões do Conselho de Segurança sobre o futuro da Unmik aconteçam à porta fechada, alegando que esse formato "promoveria uma discussão mais franca e menos performativa".
A reunião de hoje ficou também marcada por duras críticas da ministra dos Negócios Estrangeiros kosovar, Donika Gervalla-Schwarz, à Unmik, acusando a missão de prejudicar a credibilidade das Nações Unidas ao impedir observadores e a própria ONU de "obter uma imagem realista dos desenvolvimentos no país".
"Para ser clara, a Unmik não está mais a impedir ou a prejudicar o desenvolvimento do Kosovo. Está sim a prejudicar a credibilidade das Nações Unidas", frisou a chefe da diplomacia kosovar.
"As nossas preocupações com a presença contínua da Unmik não devem ser mal interpretadas, porque o Kosovo continua a trabalhar em estreita colaboração com várias agências da ONU. No entanto, a missão não serve mais a um propósito que justifique a sua presença contínua", argumentou ainda.
A vice-primeira-ministra kosovar endureceu ainda mais o discurso, acusando a Unmik de "continuar a deturpar factos" sobre o Kosovo e aderir à "propaganda sérvia" nos relatórios que apresenta à ONU e, com isso, "engana também o Conselho de Segurança".
As relações entre o Kosovo e a Sérvia, que nunca reconheceu a independência da sua antiga província em 2008, nunca foram pacíficas e as tentativas de normalização das relações falham regularmente.
Só o êxito das negociações permitirá ao Kosovo e à Sérvia aderirem à União Europeia, à qual ambos são candidatos.
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