Como o Papa salvou imigrantes e forjou uma das suas principais bandeiras?

O então bispo de Chiclayo, Robert Prevost, começou a construir um vínculo com a problemática imigrante em 2018, quando a região ficou saturada de venezuelanos em condições de vulnerabilidade que requeriam a criação de uma rede de ajuda humanitária.

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© Rocco Spaziani/Archivio Rocco Spaziani/Mondadori Portfolio via Getty Images

Lusa
17/05/2025 19:14 ‧ há 4 horas por Lusa

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Leão XIV

"A ajuda do Papa foi crucial porque faltava trabalho, comida e habitação. Ele foi o pilar da ajuda aos imigrantes tanto com ajuda material e espiritual, mas também contra a discriminação. Se não fosse por monsenhor Robert, não teríamos conseguido subsistir", conta à Lusa Víctor Martínez, de 36 anos, venezuelano oriundo Acarigua, no estado Portuguesa.

 

Víctor, a mulher e dois filhos pequenos vivem aqui há seis meses, no albergue San Vicente de Paul, na cidade de Porto Eten, a 22 quilómetros de Chiclayo, onde Roberto Prevost foi bispo durante oito anos, antes de tornar-se Papa.

O albergue familiar foi o primeiro lugar criado para acolher imigrantes. Ainda aqui vivem sete famílias, metade das que havia em 2018, no auge da imigração venezuelana motivada pelas escassez de bens essenciais, verificada durante o regime chavista.

Na sua Venezuela natal, Víctor trabalhava com cargas, mas, no Peru, improvisa com o que aparece. Num dos trabalhos como pedreiro, ao remodelar a paróquia de Santa Maria Magdalena, na vizinha cidade Eten, Víctor conheceu pessoalmente quem hoje é Papa.

"O pior período foi o da pandemia, quando não havia mais trabalho e começou a haver fome. Chegámos a um ponto extremo. A partir daí, criaram um refeitório na paróquia. Essa ajuda do Papa foi crucial", recorda Víctor.

A professora Lisbeth Díaz também chegou em 2018, quando a imigração já tinha saturado Chiclayo. Havia cerca de quatro mil famílias venezuelanas num total aproximado de 20 mil pessoas.

A ajuda da diocese conduzida pelo bispo Prevost começou pela regularização migratória, para que os imigrantes tivessem um documento que lhes pemitisse trabalhar. Depois, vieram as oficinas através das quais eram ensinados ofícios que aumentassem as chances de conseguir trabalho.

"Monsenhor Robert Prevost viu uma grande quantidade de imigrantes a dormir nas ruas, nas praças, em barracas. Viu a dor de crianças na rua. Preocupou-se conosco e, humanamente, fez muito por nós", afirma, grata, a professora.

Tal foi o agradecimento pela ajuda de quem hoje é Papa que Lisbeth hoje trabalha na pastoral como elo com os imigrantes, atendendo necessidades de alimentação, de roupa, de medicamentos e até de habitação.

"O Papa é uma pessoa muito humana, com um grande coração missionário. É uma pessoa que sofre quando vê pessoas a sofrer. Ele próprio prestava o seu serviço. Não mandava ninguém no seu lugar. Estava com o povo, ia às ruas. Procurava as pessoas nos seus lugares, o que lhes faltava, dando esse exemplo de amor ao próximo", define.

"No meu coração, há uma gratidão infinita para o Papa. A grande diferença com outro sacerdote é que ele se envolvia muito pessoalmente, incutindo-nos esperança e enchendo-nos de muito amor. Quando ele partiu, fizemos uma despedida. Estávamos todos muito tristes, mas também alegres porque ele cumpriria outra grande missão", descreve Lisbeth.

Toda a ação pastoral passava pela Comissão de Mobilidade Humana e de Tráfico de Pessoas, coordenada nessa altura por Yolanda Díaz, um dos 19 membros da organização. Yolanda mantinha diálogo direto com o bispo que, por sua vez, articulava a ajuda com as demais esferas, privada e estatal.

"Eu sou laica. 'Monsenhor Robert' convoca laicos, religiosos e sacerdotes a fazermos parte dessa comissão, porque havia imigrantes em condições de alta vulnerabilidade nas ruas, nas praças e nas paróquias. Ele disse-nos: 'Vão, vejam, escutem e veremos o que podemos fazer como Igreja", lembra Yolanda à Lusa.

O primeiro passo foi convocar 30 representantes dos próprios imigrantes de diferentes idades e lugares. Depois, foi dada formação a 14 líderes em cargos de representatividade.

"A prioridade era a documentação. A segunda, a alimentação. A terceira, a habitação. A quarta surpreendeu: que as crianças não perdessem um novo ano escolar e não fossem rejeitadas como imigrantes. Depois, começámos as oficinas para ensinar um trabalho", descreve Yolanda.

"Por um lado, no Peru, não havia políticas a favor dos imigrantes. Os hospitais nem atendiam imigrantes em situação grave. O orçamento público não prevê investimentos naqueles que não sejam peruanos. Por outro lado, não tínhamos experiência em imigração. Foi necessário começar tudo do zero. Monsenhor Robert não tinha um 'perfil alto', mas era quem articulava com o Estado, com ONG e com instituições. Ele escutava em silêncio e depois resolvia", aponta Yolanda.

No que se refere à habitação, além do albergue familiar em Porto Éten, o Papa ajudou a criar outras dez casas de acolhimento, uma para cada família de imigrantes. Também incentivou as demais congregações e paróquias a abrirem as suas portas. Quanto à alimentação, foram criados três refeitórios populares.

"Desde o começo, vimos no Papa uma pessoa próxima dos pobres e dos imigrantes que eram pobres. Lidei com sempre com a Igreja, inclusive a nível nacional. Com o Papa, não havia aquela distância cerimonial. [Teve] sempre uma atitude de pastor, de aproximação, mas que também gerava respeito. Não havia aquela questão diplomática. Podíamos dizer o que realmente pensávamos", diferencia Yolanda.

O braço executivo da ação social foi a organização Cáritas, presidida pelo próprio bispo, hoje Papa.

O padre José Alejandro Castillo Vera, secretário da Cáritas, disse à Lusa que trabalhou com muitos bispos, mas monsenhor Robert Prevost era diferente.

"Nele, eu notava algo mais. Ele queria que toda a espiritualidade levasse a algo mais. Ele dizia que tínhamos de ser a periferia. No princípio, não entendíamos. Ele mesmo assumia a responsabilidade em situações graves como a pandemia, as inundações e os imigrantes. Agora, entendemos o conceito que ele defendia de justiça social", conclui o padre.

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