Mahmoud al-Haw é um dos vários palestinianos reunidos junto a uma sopa dos pobres, abanando freneticamente as taças vazias. Na linha da frente, crianças choram e empunham baldes de plástico, na esperança de receber algumas conchas de sopa. O homem avança até à sua vez, ritual que pratica todos os dias, por temer que os seus quatro filhos estejam a morrer à fome.
Através das ruínas de Jabalia, no norte de Gaza, Haw passa até seis horas entre multidões que, tal como ele, ambicionam recolher o bastante para alimentar a sua família. Por vezes, tem sorte, e encontra sopa de lentilhas. Outras, regressa a casa de mãos a abanar.
“Tenho uma filha doente. Não lhe posso dar nada. Não há pão, não há nada. Estou aqui desde as oito da manhã, só para ter um prato para seis pessoas, quando não chega para uma pessoa”, confessou o homem de 39 anos, à agência Reuters.
Mesmo antes do escalar da guerra, a 7 de outubro de 2023, a família de Haw passava por dificuldades. A sobrinha, que vive consigo, é utilizadora de cadeira de rodas. A filha, por seu turno, tem uma doença cardíaca e asma brônquica.
Depois de subir até ao apartamento de um quarto onde as crianças o aguardam, sentadas num colchão, o homem é recebido sem surpresa quanto ao que trouxe: sopa, outra vez.
“Graças a Deus, como podem ver, isto é o pequeno-almoço, o almoço e o jantar, graças a Deus”, disse.
No dia anterior, a família não teve o que comer.
"Gostava que todos nos apoiassem. As nossas crianças estão a morrer lentamente", lamentou.
Recorde-se que, em março, as autoridades israelitas impuseram um bloqueio ao território palestiniano de 2,4 milhões de habitantes. Israel anunciou, na terça-feira, que tinha deixado entrar em Gaza alguns camiões com alimentos para bebés, no mesmo dia em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) denunciou que dois milhões de palestinianos estavam a passar fome.
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou Israel de só permitir a entrada em Gaza de uma ajuda "ridiculamente insuficiente" para não ser acusada de "matar a população à fome". A ajuda autorizada a entrar na Faixa de Gaza, uma centena de camiões desde segunda-feira segundo as autoridades israelitas, "não passa de uma cortina de fumo", segundo a organização não-governamental (ONG). A MSF denunciou ainda que se mantém o cerco que Israel impôs a Gaza no início de março para obrigar o grupo extremista palestiniano Hamas a libertar os reféns que ainda mantém em cativeiro.
O escalar da guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeado por um ataque do Hamas no sul de Israel, a 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns. A retaliação de Israel provocou mais de 53.000 mortos em Gaza, além da destruição de grande parte das infraestruturas do território governado pelo Hamas desde 2007.
Leia Também: Papa Leão XIV apela à entrada de "ajuda humanitária decente" em Gaza