Ambos defenderam os direitos dos povos indígenas e morreram por eles como missionários.
O pontífice norte-americano reconheceu "a oferta de vida" de Alejandro Labaka Ugarte -- com o nome religioso de Manuel de Beizama -- e da freira Inés Arango Velásquez -- conhecida como Maria das Neves de Medellin -, agora considerados "veneráveis" no início de um processo encaminhado para a canonização.
Os dois morreram crivados de flechas e lanças em 21 de junho de 1987 numa zona remota da Amazónia, quando queriam alertar para a ameaça de companhias petrolíferas os índios Tagaeri, população do Parque Nacional Yasuní no este do Equador considerada "não contactada", explicou o Dicastério para as Causas dos Santos.
Trata-se das primeiras medidas no processo de canonizações tomadas pelo novo Papa e acontecem duas semanas depois da sua eleição, em 08 de maio.
O caminho para a beatificação dos missionários coincide com a defesa por Leão XIV de um modelo de "Igreja missionária", uma ideia que marcou a homilia durante a missa de início de pontificado e que hoje voltou a mencionar numa audiência com membros das Obras Missionárias Pontifícias.
"A Igreja é chamada cada vez mais a ser uma igreja missionária, que abra os braços ao mundo", disse o Papa naquele encontro, considerando que as missões podem ajudar a "uma paz verdadeira e duradoura" num mundo "ferido pela guerra, violência e injustiça".
Os primeiros passos para a beatificação de Labaka e Arango Velásquez reconhecem a trajetória missionária de duas pessoas que defenderam uma população ameaçada como os povos indígenas, numa zona remota e periférica como o Amazonas.
Labaka nasceu na localidade basca de Biezama em 1920, foi ordenado sacerdote em 1945, após o que seguiu para a primeira missão na China, de onde foi expulso em 1953.
Posteriormente, foi enviado como pároco para o Equador, após o que realizou, entre outras funções, trabalho como missionário.
Em 1984, foi nomeado vigário do Vicariado Apostólico de Aguarico e bispo titular de Pomaria, onde se destacou como "conciliador e pacificador numa região de elevada tensão" e defendeu os povos indígenas do avanço das companhias petrolíferas e madeireiras.
Estabeleceu contactos amistosos com os Tagaeri, "tribo minoritária ainda não evangelizada e hostil a estrangeiros" e decidiu ir ao seu território, "onde foi assassinado pelos indígenas", juntamente com Arango Velasquez.
Maria das Neves de Medellin, nasceu na cidade colombiana em 1937, recebeu o hábito religioso em 1955 e em 1977 participou na primeira missão das Irmãs Terciarias Capuchinas da Sagrada Família no Equador, onde entrou em contacto com várias comunidades indígenas e começou a trabalhar com Labaka Ugarte.
Em 1987 viajou com ele para contactar os Tagaeri, face "ao perigo iminente" sobre esta tribo, pela "ameaça de grandes empresas petrolíferas", apesar "do risco que esta ação implicava", destacou o Dicastério.
"No dia seguinte, quando voltaram para os recolher de helicóptero, os seus corpos foram encontrados atravessados por flechas e lanças", o que mostra, segundo o Dicastério, que ambos fizeram "uma oferta livre e voluntária da vida" que valida os primeiros passos num processo que poderá culminar na eventual santificação.
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