O assassínio, na quarta-feira à noite, de dois funcionários da embaixada de Israel em Washington, tem marcado as últimas horas, gerando inúmeras reações. Israel considerou que o ataque "ligação direta" ao incitamento ao ódio antissemita e anti-israelita e deixou críticas à Europa, onde vários países já se pronunciaram e condenaram o sucedido. O que se sabe até agora?
O ataque aconteceu quando os dois funcionários saíam de um evento no Museu Judaico, por volta das 21h15 (02h15 de quinta-feira em Lisboa). A chefe da Polícia de Washington, Pamela Smith, disse, em conferência de imprensa, que o suspeito aproximou-se de um grupo de quatro pessoas e disparou uma arma de fogo.
O suspeito foi observado a caminhar junto à porta do museu antes do ataque, entrou no museu após ter efetuado os disparos e foi detido pelos elementos de segurança do evento, disse ainda Pamela Smith. Já sob custódia policial, o homem gritou "Palestina livre, livre".
Antes da detenção, note-se, o alegado atirador, já identificado pelas autoridades como Elias Rodriguez, de 30 anos, de Chicago, foi confundido com uma vítima e recebido no museu.
"Eram por volta das 21h07 (no horário local, 02h07 em Lisboa) quando ouvimos tiros. Depois, um homem entrou, parecia muito perturbado e as pessoas estavam a falar e a tentar acalmá-lo. Finalmente, veio até onde eu estava sentada e eu perguntei: 'Precisas de água? Estás bem?'", relatou hoje Katie Kalisher à imprensa norte-americana.
Após os disparos, "o segurança deixou-o entrar. Acho que pensaram que era uma vítima. Estava encharcado pela chuva, claramente em choque. (...) Algumas pessoas no evento trouxeram-lhe água. Fizeram-no sentar-se. Perguntaram-lhe: 'Estás bem? Magoaste-te? O que aconteceu?'. O homem disse: 'chamem a polícia'", disse Yoni Kalin.
Depois, contam estas duas testemunhas, pegou num 'keffiyeh' - lenço típico do Médio Oriente - e assumiu a responsabilidade pelo ataque, sem demonstrar qualquer violência. "Fiz isto, fiz isto por Gaza", disse, de acordo com a Katie Kalisher.
Segundo Yoni Kalin, o atirador gritou "Só há uma solução, a revolução da Intifada", antes de ser retirado do edifício a gritar "Palestina Livre".
O indivíduo foi depois interrogado pelo FBI.
O procurador dos Estados Unidos em Washington vai ficar responsável pelo caso.
Vítimas eram casal e uma delas tinha também nacionalidade alemã
Os dois funcionários assassinados foram identificados como Yaron Lischinsky e Sarah Milgrim. Eram um casal e iam oficializar o noivado, na próxima semana, em Jerusalém.
Esta informação foi revelada, em conferência de imprensa por Yechiel Leiter, embaixador de Israel nos Estados Unidos. "O jovem comprou um anel esta semana com a intenção de pedir a sua namorada em casamento na próxima semana em Jerusalém", disse.
A embaixada, refira-se, já tinha divulgado um comunicado no qual destacavam que Yaron e Sarah "estavam no auge das suas vidas".
"Toda a equipa da embaixada está de coração partido e devastada pelo seu assassínio. Não há palavras para expressar a profundidade da nossa dor e horror perante esta perda devastadora", dizia a nota.
Yaron Lischinsky tinha 28 anos e trabalhava no departamento político da Embaixada de Israel. Tinha um mestrado em Governo, Diplomacia e Estratégia pela Universidade de Reichman e uma licenciatura em Relações Internacionais pela Universidade Hebraica.
Milgrim, cuja idade não é conhecida, trabalhava no departamento de diplomacia pública e tinha um mestrado em estudos internacionais pela American University e um mestrado adicional em recursos naturais e desenvolvimento sustentável pela Universidade Para a Paz.
O antigo embaixador israelita Mike Herzog disse à Rádio do Exército israelita que a mulher morta era uma funcionária norte-americana da embaixada e o homem era israelita, mas também tinha nacionalidade alemã.
Há seis meses, o jovem casal conheceu o presidente israelita, Isaac Herzog, durante uma viagem a Washington.
Numa mensagem publicada no X, Herzog descreveu os jovens como "flores" que foram "arrancadas". "Mesmo antes de poderem ficar noivos e construir uma vida juntos", lamentou.
Israel acusa europeus de incitarem ao ódio após atentado nos EUA
O chefe da diplomacia israelita, Gideon Saar, acusou, entretanto, os países europeus de "incitarem ao ódio".
"Existe uma ligação direta entre o incitamento ao ódio antissemita e anti-israelita e este assassinato", afirmou Saar numa conferência de imprensa em Jerusalém.
"Este incitamento vem também de dirigentes e funcionários de muitos países e organizações internacionais, nomeadamente da Europa", acrescentou, citado pela agência de notícias France-Presse.
Este ataque ocorreu num momento em que o Governo israelita é alvo de crescentes críticas internacionais pela condução da ofensiva na Faixa de Gaza.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que ordenou o reforço das medidas de segurança nas missões diplomáticas israelitas no mundo, na sequência do assassinato.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também reagiu e qualificou como horrível o sucedido. Na mesma mensagem, Donald Trump disse que o ódio e o radicalismo não têm lugar nos EUA.
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas, disse estar chocada, vincando que não há "lugar para o ódio e o extremismo". A par disso, vários líderes europeus também já condenaram o sucedido. Em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, condenou "profundamente" as mortes e falou num ato baseado num antissemitismo que tem vindo a aumentar.
"Condenamos profundamente" o ataque, disse o ministro, adiantado que a posição de Portugal já foi transmitida às autoridades israelitas.
"É inaceitável. Por um lado, porque é um ato antissemita e, por outro, porque viola a Convenção de Viena" que protege os diplomatas, argumentou.
Para Paulo Rangel, o ataque mostra que "o ódio está a aumentar de parte a parte" devido ao conflito entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza.
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