"Assinei um acordo para proteger a base conjunta Reino Unido-Estados Unidos em Diego Garcia. Isto é absolutamente vital para a nossa defesa e sistemas de informação e, portanto, para a segurança do povo britânico. A avaliação completa da sua importância é altamente confidencial", disse o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, em conferência de imprensa.
Segundo este acordo, Londres irá arrendar o controlo da base militar Diego Garcia por 101 milhões de libras (cerca de 120 milhões de euros) anuais por um período de 99 anos.
O chefe do Governo aproveitou a oportunidade para "falar o mais francamente possível" sobre a "importância máxima" da "localização estratégica desta base".
"Desde o envio de aeronaves para derrotar terroristas no Iraque e no Afeganistão, até à antecipação de ameaças no Mar Vermelho e no Indo-Pacífico, a base é essencial para a nossa segurança interna", insistiu.
"Ajudou-nos a combater as ameaças ao Reino Unido, a apoiar operações antiterroristas contra o Estado Islâmico e a reduzir o risco para os bravos militares britânicos e norte-americanos", exemplificou o primeiro-ministro, sublinhando que este local "ajuda a combater algumas das ameaças mais desafiantes".
Assim, afirmou que a base "fornece" tanto a Londres como a Washington "capacidades únicas e vitais" que "beneficiam diretamente" o Reino Unido e os Estados Unidos (EUA).
Starmer referiu que "muitas destas capacidades são secretas", mas incluem, explicou, campos de aviação e portos de águas profundas, instalações para operar o sistema GPS, rastrear objetos na órbita da Terra e monitorizar o tratado de testes nucleares.
"Quase tudo o que fazemos a partir da base é feito em parceria com os Estados Unidos. O Presidente [Donald] Trump, juntamente com outros aliados, acolheu o acordo porque compreende a importância estratégica desta base e que não podemos ceder esta terra a outros que nos tentariam prejudicar", afirmou.
"E sejamos claros: tínhamos de agir agora, porque a base estava ameaçada", disse, referindo-se às recentes ordens judiciais. Neste sentido, considerou que "os tribunais já tomaram decisões que enfraquecem" a posição de Londres.
O primeiro-ministro britânico afirmou que se as Maurícias iniciarem novos processos judiciais, o Reino Unido "não terá perspetivas realistas de segurança".
Por fim, realçou que este acordo "é a única forma de manter a base a longo prazo".
"Não há alternativa. Nunca comprometeremos a segurança nacional. É por isso que agimos para proteger os nossos interesses nacionais, reforçar a nossa segurança nacional e proteger o povo britânico durante muitos anos", concluiu.
Pela sua parte, o primeiro-ministro das Maurícias, Navin Ramgoolam, congratulou-se com o acordo, que considerou uma "grande vitória" para o arquipélago do Oceano Índico.
"O tratado especifica, sem ambiguidade ou compromisso, que a Grã-Bretanha reconhece a soberania das Maurícias sobre todas as ilhas Chagos, incluindo Diego Garcia (...). Esta é uma grande vitória para nós e para a nação mauriciana", declarou em conferência de imprensa.
"Concluímos o processo de descolonização que começou com a independência da ilha em 1968", acrescentou.
A assinatura do acordo surge horas depois de um juiz do Supremo Tribunal do Reino Unido ter emitido uma decisão de última hora suspendendo temporariamente a finalização do acordo, marcada para hoje, após uma providência cautelar interposta contra o governo por dois cidadãos das Chagos.
O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) decidiu, há cinco anos, que Londres devia terminar "o mais rapidamente possível" a sua administração de Chagos, após concluir que o arquipélago "não foi adequadamente separado das Maurícias após a sua descolonização".
Para o TIJ, o processo "não foi legalmente concluído quando o país conquistou a independência em 1968", uma vez que a separação também não se baseou "na livre e genuína expressão da vontade do povo em questão".
Londres manteve o controlo das ilhas Chagos quando as Maurícias se tornaram independentes do Reino Unido em 1968.
Cerca de 2.000 habitantes do arquipélago foram expulsos nos anos seguintes, nomeadamente de Diego Garcia, que foi utilizada como plataforma para bombardeiros de longo alcance e navios durante as guerras do Afeganistão e do Iraque.
Após anos de negociações, Londres aceitou, em outubro, reconhecer a soberania das Maurícias sobre o arquipélago de Chagos, na condição de o Reino Unido manter a sua base militar conjunta com os Estados Unidos na ilha de Diego Garcia.
A finalização do acordo foi atrasada pela chegada de Donald Trump à Casa Branca e pela mudança de primeiro-ministro nas Maurícias.
No início de abril, o Presidente norte-americano anunciou finalmente a sua aprovação do acordo.
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