Num artigo publicado pela agência noticiosa governamental sul-africana, o ministro sul-africano da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, indicou que "a África do Sul vai importar entre 75 e 100 PJ (petajoules) por ano de gás natural liquefeito dos EUA durante dez anos, gerando cerca de 900 milhões a 1,2 mil milhões de dólares (790 milhões a 1,05 mil milhões de euros) em trocas comerciais por ano".
A publicação do artigo, citado hoje pela agência EFE, segue-se a um encontro tenso em Washington, na semana passada, entre o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, e o seu homólogo norte-americano, Donald Trump.
Segundo Ntshavheni, o aumento das compras de GNL norte-americano "será complementado por investimentos norte-americanos em infraestruturas de gás na África do Sul", e o governo sul-africano irá trabalhar com Washington para "explorar áreas de cooperação em tecnologias-chave (...) para desbloquear a produção de gás na África do Sul".
"A África do Sul e os EUA vão negociar um acordo para facilitar as importações de GNL dos EUA ao preço certo. Isto não substituirá os nossos atuais fornecedores de gás, mas complementará esses fornecimentos", acrescentou o ministro.
A África do Sul obtém a maior parte do seu gás do vizinho Moçambique.
Ao abrigo do acordo proposto, a África do Sul poderá exportar 40.000 veículos por ano para os EUA com isenção de tarifas alfandegárias e terá acesso livre de tarifas a componentes automóveis destinados à indústria americana.
Ntshavheni referiu ainda que "a África do Sul é um fornecedor crucial de matérias-primas para muitas cadeias de abastecimento dos EUA".
"Os dois países irão colaborar no investimento em minerais críticos, reconhecendo as capacidades de processamento desenvolvidas pela África do Sul para promover o comércio de valor acrescentado", acrescentou.
Por seu lado, Ramaphosa disse na segunda-feira, na sua carta semanal, que a sua visita a Washington na semana passada procurou "lançar as bases para uma maior cooperação económica".
"O principal objetivo da nossa visita foi aprofundar a nossa parceria económica estratégica com os Estados Unidos, o nosso segundo maior parceiro comercial", afirmou.
Durante as conversações da semana passada na Sala Oval com o Presidente Cyril Ramaphosa, Trump mostrou um vídeo e artigos que pretendiam apoiar as suas acusações de "genocídio" dos sul-africanos brancos, mas que continham várias imprecisões.
As relações entre os dois países deterioraram-se desde que Trump chegou ao poder em janeiro, quando cortou a ajuda a Pretória, expulsou o embaixador sul-africano e ofereceu "refúgio" aos brancos que fugiam do que descreveu como "perseguição".
O ministro da Polícia sul-africano defendeu na sexta-feira que a África do Sul não está a enfrentar um "genocídio branco" e como uma distorção das estatísticas as alegações que a maioria das vítimas de assassínios em quintas são brancas.
A teoria da conspiração do genocídio é "totalmente sem fundamento", disse Senzo Mchunu, rejeitando as acusações de Trump.
"A questão dos assassinatos no país sempre foi distorcida e relatada de forma desequilibrada", disse Mchunu, afirmando que "os homicídios nas explorações agrícolas sempre incluíram africanos (negros) e em maior número" do que os brancos.
"Não estamos a negar que os níveis de criminalidade no país são elevados", afirmou, mas isto "afeta todas as regiões, rurais e urbanas".
Os números de janeiro a março mostram uma queda de 12% no número de homicídios em comparação com o mesmo período do ano passado, com 5.727 pessoas mortas num país com uma população de mais de 64 milhões.
A maioria das vítimas são jovens negros que vivem em zonas urbanas.
O gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos considerou "totalmente descabidas" as acusações feitas por Trump contra a África do Sul.
Leia Também: Moçambique arrecada 180 milhões com projeto de gás na bacia do Rovuma