O Governo de Netanyahu, um dos mais à direita da história de Israel, está ameaçado de queda devido à questão do serviço militar dos judeus ultraortodoxos, uma vez que há décadas que estes beneficiam de uma isenção cada vez menos aceite pela sociedade israelita, numa altura em que o país está em guerra contra o movimento islamista palestiniano Hamas em Gaza desde 07 de outubro de 2023.
Netanyahu tem de lidar com uma ala do seu partido, o Likud (direita), que pressiona por uma lei que vise recrutar mais ultraortodoxos e endurecer as sanções contra os insubordinados, um verdadeiro 'casus belli' (do latim, "caso de guerra" - expressão que se refere a um evento ou situação que justifica a declaração de guerra por um Estado) para partidos como o Shass, que representam os 'haredim' ("os que temem a Deus" em hebraico) e exigem uma lei que garanta de forma duradoura a sua isenção das obrigações militares.
"Não estamos felizes por derrubar um governo de direita, mas chegámos ao nosso limite", disse à rádio pública um porta-voz do Shass, partido ultraortodoxo judeu sefardita, Asher Medina.
"Se não houver uma solução de última hora [sobre o recrutamento], votaremos a dissolução do Knesset [o Parlamento israelita]", acrescentou.
Os dois partidos ultraortodoxos de Israel, Shass e Judaísmo Unido da Torá, são fundamentais para a estabilidade do governo de Netanyahu, e ambos têm bloqueado a atividade legislativa no país há semanas em protesto contra a lentidão do governo em aprovar o plano de isenção militar.Na passada quinta-feira, uma fonte do Shass indicou à agência noticiosa France-Presse (AFP) que o partido ameaçava deixar a coligação no poder e exigia "uma solução antes de segunda-feira" (hoje).
A oposição, que procura capitalizar a revolta dos ultraortodoxos para derrubar o executivo, tenta incluir na ordem do dia da assembleia plenária de quarta-feira um projeto de lei de dissolução do Parlamento.
Formado em dezembro de 2022, o governo de Netanyahu mantém-se graças a uma aliança entre o seu partido, o Likud, formações de extrema-direita e partidos judeus ultraortodoxos, cuja saída em bloco significaria o fim do governo.
De acordo com uma sondagem publicada no jornal de direita Israel Hayom em março, 85% dos judeus israelitas apoiam uma alteração na lei sobre o recrutamento dos 'haredim', dos quais 41% são a favor de uma lei que torne efetivamente obrigatório o serviço militar (32 meses para os homens) para todos aqueles em idade de o fazer.
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