O conjunto em terracota "requer um plano de atuação e uma metodologia alicerçada nos mais recentes avanços científicos na área da conservação e restauro deste tipo de património", defendeu hoje a World Monumentes Fund (WMF), na sequência de uma visita ao Mosteiro de Alcobaça, no distrito do Leiria, para anunciar as intervenções no retábulo "Trânsito de São Bernardo".
O retábulo, em terracota, foi um dos 25 locais escolhidos em 2025 para fazer parte do programa bienal de salvaguarda do património World Monuments Watch (WMW).
A intervenção vai incidir sobre as "38 esculturas em terracota policromadas, pintura mural e molduras em pedra, que se encontram em avançado estado de degradação e requerem intervenção urgente".
O retábulo "Trânsito de São Bernardo" é composto por esculturas que encenam "o momento da passagem deste Santo para o Reino do Céu", e faz parte de um conjunto de 169 esculturas em terracota produzidas no mosteiro, entre 1670 e 1765.
As 169 esculturas repartem-se por cinco núcleos escultóricos: Série Régia, Conjunto do Altar-mor, Retábulo da Sagração de São Pedro, Capela Relicário e Retábulo do Trânsito de São Bernardo.
A conservação e restauro do retábulo "Trânsito de São Bernardo" definirá "as linhas orientadoras para a salvaguarda dos restantes núcleos escultóricos (correspondentes a 131 esculturas adicionais), sob a supervisão de uma comissão científica especializada constituída por cientistas nacionais e internacionais", divulgou a WMF em comunicado.
No âmbito do plano de salvaguarda deste património está prevista a realização de um congresso internacional em que serão abordadas as técnicas de construção e as metodologias de conservação das esculturas em barro cozido.
O congresso decorrerá nos dias 8, 9 e 10 de outubro e "possibilitará a troca de conhecimento sobre qual a melhor abordagem para a conservação e restauro destas esculturas face aos desafios que o seu estado de conservação atual apresenta".
No âmbito desta iniciativa prevê-se ainda a edição bilingue (português e inglês) de um livro sobre os núcleos escultóricos em terracota de Alcobaça, inserido na coleção "Estudos Monásticos Alcobacenses" e as "Atas do Congresso".
A salvaguarda deste património passará também por uma parceria com o Instituto Politécnico de Tomar, que inclui a realização de um 'workshop' de apresentação do Núcleo de Formação Artes e Ofícios.
Este encontro "será o ponto de partida para a instalação no Mosteiro de Alcobaça de um núcleo/escola de trabalho do barro dirigido à população local com o intuito de capacitar de jovens, promover a sua sustentabilidade económica, a coesão social e fortalecer a ligação da comunidade ao monumento", explicou a WMF.
A par, serão desenvolvidas ações de sensibilização para a comunidade escolar, em parceria com o Plano Nacional das Artes.
Como complemento destas valências, o Mosteiro de Alcobaça tem ainda previsto no seu plano diretor a implementação de um núcleo museológico, com conclusão prevista para 2028.
Após a conservação e restauro das esculturas, "estas figurarão contextualizadas do ponto de vista do seu processo de execução, metodologia de restauro, intenção iconográfica e indicação da sua localização original no edifício", refere o comunicado.
Segundo a WMF o projeto-piloto de conservação e restauro do retábulo tem um orçamento preliminar de cerca de 300 mil euros, incluindo obras no exterior da capela.
Mas o projeto "inclui outras componentes e custos adicionais" que WMF pretende que sejam "cofinanciadas por mecenas nacionais e internacionais e pela Museus e Monumentos de Portugal", envolvendo igualmente a mobilização da sociedade civil.
A World Monuments Fund é uma organização independente sediada em Nova Iorque e dedicada à salvaguarda dos locais mais preciosos do mundo, trabalhando há mais de 60 anos em mais de 700 locais em 112 países.
Em Portugal, já trabalhou sobre diversos espaços patrimoniais, desde a Catedral do Funchal, na Madeira, ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, passando pela Sinagoga Shaaré Tikvah, também na capital, entre outros.
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