A apresentação de estava programada para acompanhar o lançamento da edição número 12 do jornal Coreia, marcado para o próximo dia 5 de março.
A decisão de cancelamento, tomada a menos de dois meses do evento, foi justificada pela direção artística do teatro e pela Câmara Municipal de Santarém (CMS) com base na "não identificação com a proposta".
Contactada pela agência Lusa, a câmara disse que não censura nada nem ninguém, considerando que "a performance não era a mais adequada para o Teatro Sá da Bandeira". A direção artística do teatro, por seu lado, considerou a performance "artisticamente fraca".
No entanto, as entidades organizadoras consideram a medida uma forma de "censura" e uma tentativa de controlar a expressão artística.
"O jornal Coreia e a Associação Parasita condenam com veemência a censura da performance de Bruno Brandolino, interpretando-a como uma decisão moral por a direcção do Teatro Sá da Bandeira e a vereação da cultura da Câmara Municipal de Santarém 'não se identificarem' com a expressão coreográfica e corporal do artista", referiram hoje num comunicado.
A associação Interpreta a "não identificação" com a performance como uma tentativa "de silenciar corpos não normativos e divergentes", especialmente pela natureza da obra, que explora temas "como a nudez, a sexualidade e a abjeção".
"Um corpo nu, sexualizado, em questionamento, é um corpo historicamente censurado, não apenas em tempo de ditadura, mas também na história recente. Basta relembrar que em 2018 a então vereadora da Cultura da CMS 'denunciou uma atriz nua em palco a dizer asneiras, como um comportamento não digno para o teatro municipal' numa peça encenada por Pedro Barreiro", lê-se no comunicado.
Em declarações à Lusa, o vereador com o pelouro da cultura, Nuno Domingos, negou que a decisão seja uma forma de censura.
"Nós não censuramos nada, nem ninguém. As pessoas são livres de fazer o que querem, mas também não prescindimos de ter uma palavra sobre aquilo que é apresentado num equipamento municipal pelo qual temos a responsabilidade", declarou.
O vereador afirmou que a câmara concluiu que a performance não era a mais adequada para o Teatro Sá da Bandeira, embora reconheça que possa ser apresentada em outros locais.
"Nós não temos condições para apresentar aquele tipo de proposta num teatro com a tipologia do Sá da Bandeira" disse, enfatizando que a decisão não está relacionada com a nudez, mas sim com a qualidade artística da proposta.
Nuno Domingos disse ainda que a decisão foi tomada em conjunto com o Teatro, visando os interesses do município e do público, enfatizando que a autarquia respeita a liberdade artística, mas também tem a responsabilidade de avaliar o que é apresentado nos seus equipamentos culturais.
Já o diretor artístico do Teatro Sá da Bandeira, João Aidos, considerou a performance "artisticamente fraca".
"Nós olhamos para aquilo são os públicos, e considerámos que aquela proposta não era a mais indicada. Artisticamente, o espetáculo não acrescenta nada Se fosse outro programador, escolheria outros projetos. Numa perspetiva de relação com o território, em termos artísticos não me revia com a performance", referiu.
A peça "El Universo no se asemeja a nada" foi criada em 2019 e explora "um corpo não binário, que se apresenta nu e com o sexo escondido" que vive à margem da sociedade "que se desdobra numa jornada sonora escato-sexual".
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