Em declarações aos jornalistas no parlamento, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, começou por contrariar a tese do Presidente da República, negando que tenha estado em causa "um conflito de opiniões em que uns entenderam que havia um problema ético" relacionado com o primeiro-ministro, "e outros entenderam que não havia".
Mariana Mortágua reagia ao discurso do Presidente da República, que anunciou hoje a marcação de legislativas antecipadas para 18 de maio, após a queda do Governo.
"Há de facto um problema ético que redunda no facto de o primeiro-ministro receber avenças através de uma empresa que está na sua esfera pessoal e não ter querido prestar mais esclarecimentos, nem fornecer os dados e as informações dessa empresa", considerou Mariana Mortágua.
A coordenadora bloquista defendeu ainda que Marcelo Rebelo de Sousa "tem o dever de garantir que o Governo não extravasa as suas funções e os poderes que tem" enquanto está em gestão.
Quanto ao partido, disse que vai fechar as listas de deputados nos próximos dias e fará uma campanha "para resolver impasses" como a crise na habitação ou os baixos salários.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, garantiu que a CDU "não vai desperdiçar a oportunidade de levar para o debate eleitoral a vida difícil e as dificuldades que atravessa a maioria do povo, as soluções que dizem respeito aos salários, às pensões, ao acesso à habitação, ao Serviço Nacional de Saúde, direitos das crianças e dos pais".
Após alguns alertas deixados por Marcelo Rebelo de Sousa sobre a necessidade de preservar o regime democrático, Paulo Raimundo salientou que apenas se salvaguarda a democracia respondendo a "problemas concretos" como aumento de salários e pensões.
Paulo Raimundo considerou que o Presidente da República, "ao incidir uma parte da sua intervenção em torno do caso em concreto" que envolve o primeiro-ministro "acabou por, talvez de forma direta, sublinhar as responsabilidades que o Governo tem no seu próprio caminho".
O comunista salientou, contudo, que as divergências do seu partido com o Governo não se limitam a este caso, estando também em causa um "combate político-ideológico".
Pelo Livre, o porta-voz Rui Tavares lembrou que já desde as legislativas do ano passado afirmou que Portugal podia estar perante "uma crise de regime" e não apenas política, alertando que cabe agora aos portugueses "evitar que esta crise ética e individual do primeiro-ministro se transforme numa verdadeira crise de regime em todos os seus elementos e à vista de todos".
"Esperamos que esta campanha possa ser esclarecedora nesse sentido, que possa haver alternativas, que não passemos o tempo todo da campanha eleitoral num debate de atirar culpas de uns para os outros, mas que se discuta verdadeiramente as necessidades do país, a crise europeia e internacional, e que assim o país possa evitar uma crise pior ainda do que aquela que já vivemos e do que a anterior", apelou.
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, defendeu que "ficou claro das palavras" do Presidente da República que o "único responsável" pela atual crise política é o primeiro-ministro, acusando-o de ter "falhado para com os portugueses".
A deputada defendeu que "as pessoas precisam de sentir que as suas vidas avançam", esperando que o debate eleitoral "não fique minado" pela polémica sobre os eventuais conflitos de interesse do primeiro-ministro, bem como de casos de outros partidos, referindo-se ao Chega e a "questões de alegada pedofilia e outras situações igualmente graves".
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