Das queixas ao inquérito no MP. A polémica com o jogo que incita violação

A produtora do videojogo defendeu a dominação masculina e a violação como "fetiches" para muitos.

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© Steam / Zerat Games

Cátia Carmo
13/04/2025 08:15 ‧ há 3 dias por Cátia Carmo

País

Violação

A polémica rebentou a 22 de março, quando a Steam, a maior plataforma de videojogos do mundo, onde estão conhecidos jogos como o EAFC, The Last of Us, Football Manager e Sims, disponibilizou 'No Mercy' [Sem Misericórdia, em português], um jogo que incentiva a violação de mulheres. O lema é "torna-te no pior pesadelo das mulheres".

 

Nos Estados Unidos, o Centro Nacional de Exploração Sexual (NCOSE) condenou "veemente" o videojogo e instou o Steam a retirá-lo plataforma, considerando que "promove a violência sexual gráfica, o incesto, a chantagem e a dominação masculina, encorajando explicitamente os jogadores a envolverem-se em atos não consensuais e comportamentos misóginos".

Uma opinião partilhada pela organização sem fins lucrativos 'Women in Game', que condenou a existência do 'No Mercy' e considera que a presença deste no Steam é "totalmente inaceitável".

Na Austrália, Canadá e no Reino Unido o jogo foi banido.

Em Portugal esteve disponível durante quase um mês na plataforma, restrito a maiores de 18 anos e com um custo de 11,79 euros. Acabou por ser banido esta semana.

Após polémica, jogo que incentiva violência contra mulheres foi removido

Após polémica, jogo que incentiva violência contra mulheres foi removido

Apesar disso, os produtores responsáveis partilharam um comunicado em que defenderam o jogo.

Miguel Patinha Dias | 08:36 - 11/04/2025

No entanto, ainda que o jogo tenha sido removido da Steam, quem comprou 'No Mercy' continuará a ter acesso ao jogo e ter a possibilidade de fazer download e instalar no respetivo computador e a Zerat Games continua a comercializar o título noutras plataformas.

"Gostaríamos que fossem um pouco mais abertos a fetiches"

Apesar da polémica, os produtores da Zerat Games chegaram a vir a público defender o jogo, argumentando que a dominação masculina e violação continuam a ser "fetiches" para muitos.

"Compreendemos completamente que para muitas pessoas estas coisas possam ser nojentas mas, durante o sexo, as pessoas devem realmente fazer o que querem desde que não prejudiquem ninguém", pode ler-se no comunicado. "Se, após lerem o nosso comunicado continuarem a considerar que um jogo destes não devia ter sido criado, então pedimos desculpas. Ao mesmo tempo, gostaríamos que fossem um pouco mais abertos a fetiches humanos que não prejudicam ninguém, ainda que vos possam enojar. Isto é apenas um jogo e, apesar de muitas pessoas o quererem tornar algo mais, continua e continuará a ser um jogo".

Denúncias e queixas em Portugal

A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género fez queixa junto do Ministério Público contra a plataforma Steam pela comercialização do videojogo 'No Mercy', por um eventual caso de propagação de discurso de ódio contra as mulheres.

Numa nota divulgada na página de Instagram da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), o organismo diz ter contactado a plataforma para que retirasse o jogo e "remeteu denúncia ao Ministério Público por comercialização de conteúdo potencialmente enquadrável na propagação de discurso de ódio contra as mulheres, apologia da violência sexual e incitamento à prática de crimes sexuais".

Já o Movimento Democrático de Mulheres apresentou queixa ao Ministério Público e junto da Comissão para a Igualdade de Género contra os autores do jogo. Em comunicado, o movimento defendeu que o videojogo "promove a violência sexual e misoginia" e exige, por isso, que as plataformas tecnológicas sejam responsabilizadas.

Movimento de Mulheres faz queixa junto do MP contra jogo 'No Mercy'

Movimento de Mulheres faz queixa junto do MP contra jogo 'No Mercy'

O Movimento Democrático de Mulheres vai apresentar queixa ao Ministério Público e junto da Comissão para a Igualdade de Género contra os autores do jogo 'No Mercy', que desafia os utilizadores a tornarem-se no "pior pesadelo das mulheres".

Lusa | 15:09 - 11/04/2025

As queixas e denúncias levaram o Ministério Público a abrir um inquérito relacionado com o videojogo, no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa. Sem avançar mais detalhes, uma fonte da Procuradoria-Geral da República referiu que o inquérito está a decorrer. 

Recorde-se que esta não é a primeira vez que a Steam está envolvida em controvérsia. Em 2019, a plataforma foi mesmo obrigada a remover o jogo 'Rape Day' – onde os jogadores podiam também assediar, violar e matar mulheres.

Leia Também: Amnistia alerta para violações dos direitos humanos nos EUA

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