"Foi um estilo de proximidade a todos, de ternura, usou a linguagem da ternura, e de compaixão para com todos e, por isso, tocava o coração de todos. Com o seu estilo, deixou-nos a imagem de Igreja e deixou uma mensagem para a humanidade", afirmou à agência Lusa António Marto, bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima.
O Papa Francisco morreu hoje aos 88 anos, após 12 anos de um pontificado marcado pelo combate aos abusos sexuais, guerras e uma pandemia.
Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta a chegar à liderança da Igreja Católica.
O Papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março. A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.
O cardeal recordou que Francisco chamava à Igreja "hospital de campanha", sempre pronta "a acolher, em primeiro lugar, os feridos e a ajudar a curar as feridas".
"Naturalmente, que se trata sobretudo de feridas morais, espirituais, psicológicas de que o mundo hoje está cheio e tanto precisa deste cuidado", declarou, para destacar que o Papa deixou também "esta cultura do cuidado de uns pelos outros, sobretudo pelos mais vulneráveis".
Para o cardeal, Francisco, "para a humanidade, foi um Papa atento e com uma mensagem sempre muito própria, muito adaptada aos problemas emergentes".
Neste particular, referiu, por exemplo, a questão ambiental com a encíclica "Laudato Si'', sobre o cuidado da casa comum, ou os apelos à paz.
"Para sair da guerra e da divisão entre as pessoas e os povos, apontava o caminho da fraternidade universal e da amizade social. É belíssimo, porque é a base espiritual da coesão social", assinalou.
Já no que diz respeito ao fluxo migratório, o cardeal reconheceu que Francisco "teve, de facto, as palavras mais pungentes e urgentes para a defesa dos migrantes que perdiam a sua vida no mar, que saíam das suas terras onde viviam na miséria, ou na fome, ou na guerra, à procura de melhor qualidade de vida, de melhores condições de vida".
"Era um Papa, de facto, atento aos problemas de hoje e abriu perspetivas de humanidade", disse António Marto, sustentando que o Papa, "mesmo hoje, no meio de um mundo tão dividido, tão polarizado, tão fragmentado, era a única voz que tinha autoridade moral e audiência entre todos, mesmo nas confissões religiosas diferentes".
António Marto admitiu ainda ter recebido a notícia da morte do Papa Francisco "com um sentimento profundo de consternação e comoção".
"Perdemos um pai, um pastor amado por todo o povo de Deus e amado, penso eu, pela grande parte, a grande maioria da humanidade de hoje", notou, para sublinhar o "reconhecimento e gratidão por tudo aquilo" que ele legou.
António Marto, que vai participar no Conclave para eleger o sucessor de Francisco, lembrou ainda que o Papa, como disse em Fátima, em 2017, deixou uma Igreja de "portas abertas", tendo por ocasião da Jornada Mundial da Juventude defendido "uma Igreja onde têm lugar todos, todos, todos".
"Será uma expressão inesquecível, penso eu, não só para a geração presente, mas para o futuro também", sustentou.
Recuando a 2017, ao centenário dos acontecimentos de Fátima e à canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, em 2017, o então bispo de Leiria-Fátima lembrou que "um momento muito comovente foi na procissão do adeus, em que ele também tinha um lenço na mão e acenava" e as lágrimas brilhavam-lhe nos olhos.
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