A Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) abriu um inquérito ao alegado arrombamento da porta da casa da família de Odair Moniz, na noite após a morte do cidadão cabo-verdiano, no bairro da Cova da Moura, na Amadora.
O organismo esclareceu ao jornal Público que o processo tem como objetivo "apurar factos relacionados com a investigação criminal em questão", além de englobar "todas as situações relativas à atuação de elementos da Polícia de Segurança Pública (PSP) nesse âmbito", nomeadamente a "elaboração do auto de notícia".
O Notícias ao Minuto tentou contactar a IGAI mas, até ao momento, não foi possível obter informações.
Morador no Bairro do Zambujal, Odair Moniz foi baleado mortalmente por um agente da PSP a 21 de outubro, quando conduzia o seu carro, no bairro da Cova da Moura.
As circunstâncias da morte do cidadão cabo-verdiano de 43 anos continuam por esclarecer, desconhecendo-se os resultados dos inquéritos abertos pela própria PSP e pela IGAI.
A morte de Odair Moniz desencadeou a revolta, nalguns casos acompanhada por distúrbios, em vários bairros da periferia de Lisboa.
Em final de janeiro, o Ministério Público (MP) acusou do crime de homicídio, punível com pena de prisão de oito a dezasseis anos, o agente da PSP que baleou Odair Moniz no bairro da Cova da Moura.
Segundo a acusação, Odair Moniz tentou fugir e resistir à detenção, mas não se verificou qualquer ameaça com recurso a arma branca, contrariando o comunicado oficial da PSP divulgado após o incidente, segundo o qual o homem teria "resistido à detenção" e tentado agredir os agentes "com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o Vida Justa contestaram, desde logo, a versão policial e exigiram uma investigação "séria e isenta" para apurar responsabilidades, considerando estar em causa "uma cultura de impunidade" nas forças de segurança.
Na acusação, o MP pediu a suspensão do agente da PSP como medida de coação e também que seja aplicada uma pena acessória, já em fase de condenação, de proibição de exercício de função. Neste momento, o agente, de 27 anos, está de baixa e sem data para regressar ao trabalho.
Depois de a defesa do arguido ter decidido não requerer a abertura de instrução, o caso seguiu diretamente para julgamento, que deverá decorrer no Tribunal de Sintra.
Além do processo judicial, estão a decorrer processos de âmbito disciplinar na PSP e na IGAI, à qual a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, pediu "caráter de urgência".
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