"Eu mandei fazer uns panfletos onde apelo ao voto nulo, porque a Região Demarcada do Douro está em catarse profunda e os políticos não têm uma solução", disse à Lusa Manuel Covas, vice-presidente da Associação Lutar Pelo Douro.
O responsável recordou que "foi restaurada a Casa do Douro, foi eleita uma direção em dezembro de 2024, tomou posse no dia 27 de janeiro deste ano" e, até fazendo parte do Conselho Regional, verificou que "pouco ou nada há que se possa transmitir aos pequenos e médios viticultores, que são aqueles que estão com a corda ao pescoço".
"Eu também sou um pequeno viticultor e sei quanto é que me custa a agricultura. Eu ando a vender uvas abaixo do preço de custo. Costumo dizer que andamos a trabalhar para aquecer", contou Manuel Covas.
Estando localizado na "freguesia com maior autorização de produção" na região, no caso Ervedosa do Douro (município de São João da Pesqueira, distrito de Viseu), o dirigente associativo disse que está e vai distribuir panfletos também "em todas as freguesias" do concelho e por mais associados.
"Não vemos esperança em lado nenhum. Eu acompanho de perto todas estas situações, porque faço parte do Conselho Regional da Casa do Douro, e não se vê nenhuma solução à vista para estas vindimas", lamentou, lembrando que começam "daqui a quatro meses".
Manuel Covas alerta que "não há nenhuma medida para que as pessoas possam andar satisfeitas", observando-se "um descontentamento total", sendo uma das principais reivindicações que "o subsídio chegue diretamente ao viticultor e que não venha por outros meios", como a destilação de crise.
"Eu continuo a dizer que as pessoas vão votar, porque é um dever cívico, mas que votem nulo, branco ou de outra forma qualquer, de forma a que o voto não seja válido, e se houver muitos votos nulos ou brancos é sinal mesmo de alguma coisa, que está tudo mal para nós, que as pessoas estão revoltadas", vincou.
Mais de 150 viticultores do Douro receberam cartas a cancelar encomendas de uvas para este ano, o que está a gerar receio e indignação, chegando a equacionar um boicote às eleições legislativas de domingo.
"Está-se a iniciar a catástrofe que já tínhamos previsto na última campanha, que no ano passado foi próximo da vindima, em que as casas compradoras de uvas disseram que não queriam comprar uvas. Este ano, estamos em abril e o cenário já se está a tornar negro", disse à Lusa, em 17 de abril, Marinete Alves, que faz parte do Conselho Regional da Casa do Douro.
À data, a viticultora, presidente da Associação Lutar Pelo Douro e dinamizadora da petição de 2024 "Salvem os viticultores do Douro", que chegou às 2.600 assinaturas, disse que os viticultores estavam a ponderar manifestar-se junto do Governo.
"E, neste momento, com as eleições que agora [estão] à porta, as legislativas, mostrar o nosso desagrado e descontentamento boicotando as eleições", disse então à Lusa, admitindo até evitar "a abertura das mesas de voto", um cenário que foi entretanto abandonado.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a sua filiada Avadouriense - Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar Douriense convocaram um plenário de viticultores do Douro para 01 de junho no Peso da Régua, foi hoje anunciado.
Em 02 de maio, a Casa do Douro reclamou medidas "fundamentais" para enfrentar a crise na viticultura como a incorporação de aguardente regional no vinho do Porto, destilação de crise, colheita em verde e a suspensão do VITIS.
O presidente da Casa do Douro, Rui Paredes, também desafiou os partidos políticos concorrentes às legislativas a olhar com atenção para o Interior e para a viticultura, reclamando uma posição concreta sobre a crise no setor do vinho.
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