"Saio muito tranquila e agora espero que se faça justiça (...) A minha parte já disse que foi a verdade, não é? E agora só espero que a justiça faça a sua parte, que é condená-lo", disse a testemunha, à saída do Tribunal de Aveiro.
Durante o seu depoimento, que demorou quase quatro horas, Sara Silva confirmou a existência de um relacionamento amoroso entre a irmã e Fernando Valente, contrariando assim a versão do arguido, que diz que só esteve uma vez com a vítima.
"Sim, eu provei isso, com aquilo que vivi com a minha irmã, na mesma casa, e que ele levava e que ele vinha buscar. E está tudo dito, acabou", afirmou.
Em declarações à Lusa, no final da sessão, o advogado António Falé de Carvalho disse que terminada a produção de prova da acusação, o tribunal de júri irá começar a ouvir na quinta-feira as testemunhas arroladas pela defesa, incluindo os pais do arguido.
"Vamos ver o que é que eles vêm dizer. Também são dois testemunhos importantíssimos, principalmente o pai, que interveio diretamente na limpeza do apartamento [onde a acusação diz que ocorreu o crime]", disse o advogado, que representa os filhos menores de Mónica Silva.
O advogado explicou ainda que o Ministério Público requereu a inquirição de mais uns inspetores da Polícia Judiciária e uma técnica oficial de contas, mas o tribunal entendeu que isso não era necessário e recusou o pedido.
O julgamento realizado com tribunal de júri (composto por três juízes de carreira e oito jurados) está a decorrer à porta fechada, sem a presença de público e jornalistas, porque a juíza titular do processo determinou a exclusão da publicidade da audiência de julgamento e demais atos processuais, para proteger a dignidade pessoal da vítima face aos demais intervenientes envolvidos, nomeadamente os seus filhos.
Fernando Valente, que teve uma relação amorosa com a vítima que terá resultado numa gravidez, está acusado dos crimes de homicídio qualificado, aborto, profanação de cadáver, acesso ilegítimo e aquisição de moeda falsa para ser posta em circulação.
O arguido, que se encontra em prisão domiciliária, foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) em novembro de 2023, mais de um mês depois do desaparecimento da mulher, de 33 anos, que estava grávida com sete meses de gestação.
O MP acusa o arguido de ter matado a vítima e o feto que esta gerava, no dia 03 de outubro de 2023 à noite, no seu apartamento na Torreira, para evitar que lhe viesse a ser imputada a paternidade e beneficiassem do seu património.
A acusação refere ainda que durante a madrugada do dia 04 de outubro e nos dias seguintes o arguido ter-se-á desfeito do corpo da vítima, levando-o para parte incerta, escondendo-o e impedido que fosse encontrado até hoje.
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