ONG pedem à Comissão Europeia para reavaliar apoio à mina do Barroso

Três organizações não-governamentais (ONG) pedem à Comissão Europeia que reavalie a decisão de classificar a mina de lítio a céu aberto, em Boticas, como projeto estratégico, considerando que "não avaliou corretamente" os riscos ambientais e sociais.

lítio

© Shutterstock

Lusa
11/06/2025 23:12 ‧ ontem por Lusa

País

Lítio

A associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB), a MiningWatch Portugal e a ClientEarth defendem, em comunicado divulgado hoje, que a Comissão Europeia "não avaliou corretamente" os riscos ambientais e sociais da mina do Barroso antes de, em março, lhe conceder um "estatuto preferencial" ao abrigo do Regulamento das Matérias-Primas Críticas.

 

A mina de lítio, proposta pela Savannah para Covas do Barroso, em Boticas, distrito de Vila Real, obteve uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) condicionada em 2023 e a empresa prevê iniciar a produção em 2027.

"Esta mina representa uma séria ameaça a um ecossistema frágil e a uma região com uma herança cultural única. E a comunidade que aqui vive tem manifestado consistentemente a sua oposição. A Comissão Europeia não pode permitir que a transição verde seja construída com base em danos ambientais e injustiça social", afirma, citada no comunicado, Ilze Tralmaka advogada ClientEarth, uma organização internacional sem fins lucrativos.

As organizações ambientalistas podem pedir às instituições e organismos da União Europeia (UE) -- neste caso à Comissão Europeia -- a revisão de uma decisão por alegada violação da legislação ambiental europeia, o designado "pedido de revisão interna".

A Comissão tem até 22 semanas para responder podendo, depois, as organizações apresentar uma queixa no Tribunal de Justiça da UE.

"Classificar este projeto como 'estratégico' serve apenas para justificar a degradação ambiental e os prejuízos para as comunidades locais, ignorando a incerteza económica do lítio e a contínua incapacidade da Europa em desenvolver uma cadeia de valor coerente para baterias", refere Nik Völker, da MiningWatch Portugal.

Para o ambientalista, "transformar as periferias europeias em zonas de sacrifício, sem planeamento claro, imparcialidade ou responsabilização na execução da transição verde" estabelece um "precedente perigoso".

Entre as preocupações reveladas pelas organizações estão a proposta "insegura" para o armazenamento de rejeitos (resíduos sólidos e/ou líquidos que são descartados após o processamento do minério), ainda as fontes de água propostas para a mina "consideradas inviáveis" e a "aprovação do local não cumpre as condições ambientais necessárias".

No comunicado lê-se que os residentes há muito alertam que o projeto põe em risco as suas terras e os seus meios de subsistência.

"As pessoas aqui dependem de água limpa de nascentes e rios para beber, para a agricultura e para o gado. Se essa água se tornar escassa ou contaminada, o nosso modo de vida fica em risco. Para quê? Para alguns anos de lítio trocados por mais carros e um novo tipo de poluição", disse Catarina Alves, da associação UDCB.

Os grupos argumentam ainda que "simplesmente substituir os carros a combustão por elétricos, sem repensar o sistema de mobilidade como um todo, é uma solução falsa".

"Sustentabilidade real significa priorizar o transporte público, inverter a tendência de compra de carros maiores, investir na reciclagem e, assim, reduzir a necessidade de nova mineração, ao mesmo tempo que se apoia, e não se marginaliza, as comunidades rurais", refere ainda Catarina Alves.

As ONG pedem à comissão que reavalie a sua decisão e apelam a que "adote um processo rigoroso, baseado em evidências, que verifique de forma independente as alegações dos promotores e priorize projetos que realmente estejam alinhados com os objetivos de sustentabilidade da Europa", chamando ainda a atenção "para preocupações mais amplas quanto à transparência e integridade dos processos de aprovação de projetos estratégicos da UE".

Leia Também: Refinaria de lítio em Estarreja está "em fase de análise profundada"

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas