O jovem que agrediu o ator Adérito Lopes na terça-feira, à porta do teatro A Barraca, em Lisboa, justificou o ato violento como resposta "a uma ofensa", pediu para ser constituído arguido no caso e negou pertencer a qualquer grupo neonazi, apesar de já ter estado presente em dois almoços, um neste 10 de Junho e noutro há dois anos.
Em entrevista ao jornal Público, o agressor acusou o ator de lhe ter chamado "filho da pu**" e diz-se "arrependido" por ter agido por "impulso" e "estupidez".
Apesar de ter contado que esteve a almoçar no bar Túnel, em Santos, ao lado do teatro com pessoas que foram condenadas pela morte de Alcindo Monteiro, há 30 anos, por motivações raciais, o jovem garante que não pertence ao grupo neonazi Blood and Honour. Apenas foi levado ao evento por um amigo de há cinco anos, que conheceu em "saídas à noite" e "jogos de futebol".
Antes do almoço esteve perto do Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém, onde o xeque David Munir foi alvo de insultos racistas e um grupo fez a saudação nazi, mas nega ter estado no monumento e com mais pessoas além do amigo.
"Não me identifico com a extrema-direita, não sou neonazi", afirmou o jovem, admitindo que tem "medo de represálias" e, por isso, prefere não divulgar o nome ao jornal.
Ricardo Sá Fernandes, um dos advogados de Adérito Lopes, afirmou também ao Público que "é completamente mentira" que o ator tenha insultado o agressor, garantindo que "foi uma agressão completamente gratuita".
Recorde-se que na terça-feira, Dia de Portugal, um ator da companhia de teatro A Barraca, Adérito Lopes, foi agredido por um grupo de extrema-direita, em Lisboa, quando entrava para o espetáculo com entrada livre "Amor é fogo que arde sem se ver", de homenagem a Camões.
Em declarações à agência Lusa, a diretora da companhia, a atriz e encenadora Maria do Céu Guerra, contou que a agressão ocorreu cerca das 20h00, quando os atores estavam a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos e, junto à porta, se cruzaram com "um grupo de neonazis com cartazes, programas", com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.
Na quarta-feira, o Ministério Público confirmou à agência Lusa a abertura de um inquérito para investigar a agressão contra o ator.
Já na quinta-feira, Adérito Lopes, com o antigo ministro da Educação João Costa, assinou um artigo de opinião no semanário Expresso com o titulo "Não viveremos no medo que nos querem impor".
No dia 10 de Junho, em que "saboreámos as palavras desassombradas de Lídia Jorge e o alerta claro do Presidente da República", foi também o dia em que "um dos autores deste texto foi barbaramente agredido por um neonazi", escrevem Adérito Lopes e João Costa no artigo conjunto.
E concluem: "Querem-nos com medo. Mas nós não temos.".
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